Eu, Ocultista

Já devia ter terminado a minha licenciatura, mas ainda demorou uns tempos. Vinte e quatro anos, mais mês menos mês, era a minha idade. 

Tinha tido uma sequência de acontecimentos variados no último ano. Estagiara no Diário de Notícias e na RDP, não conseguia estabilizar o meu início de profissão e andava a fazer cursos no CENJOR, o Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas.

Sabia bem o que queria, mas era muito difícil atingi-lo e não estava contente com isso.

No CENJOR, conheci uma professora de técnicas vocais competente, dedicada e amiga dos formandos.

Dizia que eu era muito mental, pensava demasiado sobre as coisas e a verdade é que nos exercícios de relaxamento corporal havia duas ou três pessoas a tentarem ao mesmo tempo ajudar-me a descontrair, sem sucesso.

Fui ficando amigo da docente, do marido e do filho. Interessavam-se muito por ocultismo, esoterismo e astrologia (numa perspectiva séria e profunda, não a da revista Maria ou da TV Guia).

Fernando Pessoa e a aclamada autora Helena Blavatsky dedicaram muitos anos, e livros, a alguns destes temas.

Vou explicar o que se pode entender por ocultismo e esoterismo, na perspectiva de alguém (eu) que esteve próximo dessa área durante algum tempo.

Trata-se, em parte, de um pensamento, uma filosofia, um caminho, uma forma de viver e ver o Mundo. Tem mais a ver com isso do que com religião, embora tenha o seu lado místico.

Vai buscar alguns princípios ao budismo e a outras fontes. Algo que agradaria facilmente a um agnóstico como eu, que, não tendo certezas sobre a existência ou não de uma (ou mais) Entidades Superiores, mais dúvidas tem sobre o que serão ou como se apresentarão.

A verdade é que nunca aceitei que a vida fosse só isto: Matéria, células, impulsos químicos. Estou mais que certo de que existe mais. E até mesmo muitos cientistas e médicos poderiam provavelmente dizer o mesmo.

Certas correntes esoteristas crêem que existem Seres Luminosos, que se encontram num Plano Superior, e a quem nós podemos, de alguma forma, tentar apelar, fazer aproximar de nós, para ajudar a Humanidade a evoluir.

Os verdadeiros ocultistas que me perdoem por tão grosseira simplificação, mas espero estar a conseguir transmitir uma ideia aproximada destas correntes, que continuo a considerar belas e interessantes.

Ainda participei nalgumas bonitas celebrações rituais, pacíficas e inspiradoras, que apelavam precisamente à aproximação desses Anjos, Espíritos, Seres de Luz, para que viessem colaborar connosco, orientar-nos, guiar-nos, auxiliar-nos no nosso caminho. Foi agradável e enriquecedor.

Só que o problema (o meu) continuava lá: Se sou agnóstico e acredito que tudo isso pode ser, ou não, real, estou sempre à procura de uma espécie de prova. Quero, não apenas crer, mas ver comprovado e Sentir que é mesmo verdade.

Foi assim que acabei por afastar-me do Esoterismo, como me retirei de muitas outras coisas. Não acredito nem deixo de crer. Mas continuo a ter uma simpatia e um carinho especiais por essas correntes de pensamento, que talvez nos pudessem ajudar… E nós, que precisamos tanto.

O Café das Panteras Negras

– Então, como é que foi o seu jantar, a 50 quilómetros, em noite de temporal brutal?

– Olha, então foi as azeitonas, o pão e a salada. E o bacalhau. Paguei 15 euros. Mais a gasolina.

– E o tempo? 

– Bom, só começou a chover já durante o jantar. Devagarinho, devagarinho, mas nunca mais parou.

– Então e o jogo?

–Épá, fomos roubados. Perder assim é muita mau, pá!

No café dos Gatos Pretos as conversas prosseguem, no fim-de-semana do vendaval, dos alertas laranja e da derrota de Portugal.

Indiferentes a tudo isso estão os felinos negros. Este é o lugar das pequenas panteras da cor da noite.

Os donos do estabelecimento alimentam-nos, mimam-nos, esterilizam-nos, tomam conta deles. São entre dez e quinze seres misteriosos e ronronantes, quase todos  de pelagem parecida com o breu.

Há umas, um pouco mais jovens, que residem ali à porta, nas arcadas, protegidas pelas grades – num espaço amplo e seguro onde têm as suas camas e casas de banho. Uma espécie de galeria e refúgio.

É boa gente, aquela que está à frente do estabelecimento, e, claro, adoram animais. 

Já andam por cá há muito tempo. A senhora tem as instalações cheias de decorações natalícias elaboradas por ela, a partir de materiais como rolhas, tampas, plásticos e por aí fora.

Gosto do lugar, acho-o positivo e inspirador, com a sua coluna a rodar a rádio M80 sem exagerar – muito – no volume, e as reuniões espontâneas de vizinhos, um micro-cosmos civilizacional. Inclui uma ou outra criança, alguns jovens adultos, uma boa percentagem de pessoas de meia idade e uma maioria de idosos.

Acabo por ouvir a vida, os dramas e os problemas dos outros, desde a senhora que tem o marido acamado ao homem de 60 anos cujo neto sofre de cancro e pratica desportos aquáticos.

Sempre que há um raio de Sol fico lá fora, para lá do toldo, mesmo que a esplanada não esteja montada, a observar os gatos. No café das panteras negras.

Os nepaleses ensinaram-me a apoiar Portugal

— Então, amigos, torcem por quem?
(Diálogo em inglês do princípio ao fim, no restaurante nepalês mais adorado de Almada)
— Oh, Portugal, Portugal, Portugal!

No dia em que perdemos com a Coreia, os empregados, gerentes e clientes do venerado Base Camp, onde se come optimamente quase de graça e se é tratado como um sultão do Qatar, deram-me umas aulas sobre como apoiar a Selecção das Quinas.

Aquele grupo de gentil e amável malta asiática estava a fazer claque pela equipa de Ronaldo e Ramos com muito, muito mais febre e fervor do que eu alguma vez conseguiria.

Ainda tinha coisas para fazer nesse dia de folga, mas aquilo foi de tal ordem que seria indelicado e desleal sair a meio.

Perdemos, mas os meus amigos orientais fartaram-se de sofrer e eu fiquei a saber como se apoiam os nossos jogadores, com fúria, dedicação e carinho.

O Capitão, segundo dizem os jornais, tem tido atitudes criticáveis nas últimas semanas. Declarações fora do campo, alhadas documentadas nas quatro linhas.

O CR7 é um ser humano, com as suas qualidades e defeitos, os seus acertos e erros. Como o primeiro-ministro, o Presidente da República, o líder da Oposição ou até mesmo as nossas mães, os pais ou filhos de cada um e nós próprios.

Foi um monumento à dedicação e ao talento, o melhor jogador do Mundo, carregou a equipa aos ombros durante anos.

Agora, deixou de ser um miúdo cheio de gás e sangue na guelra, para os padrões da alta competição é já um sénior. Tem dificuldades em lidar com isso, como qualquer um.

Terá tido acções condenáveis, admite-se. Mas fazer do ódio ou amor religioso a Cristiano o Santo Gral, o Alfa e o Ómega da nossa Existência?

Isso parece ter tanto sentido como falar sobre um suposto alegado presumível vídeo íntimo de um outro jogador nacional e perder horas de emissão de telé-lixo com isso, convidando quatro Comentadores para analisar… Nada.

A Gáta que liga a televisão para mim

Procura muito mais o calor, em todas as formas e fontes, durante o Inverno.

A minha pequena pantera negra enrola-se num novelinho na cama peluda e quente apropriada para esse efeito.

Passa longos períodos sobre os meus joelhos enquanto trabalho. Ronrona sem fim, adormece imediadatamente.

De quando em vez contempla-me, estica os bracinhos para o meu peito, faz-me festas na cara com os dedos pequeninos. E tenta agarrar os auscultadores, o microfone, o lenço à volta do meu pescoço…

Há um lugar que o anjinho venera acima de tudo. A Gáta-Gatínha-Bonéquinha pela-se para estar em cima do Router da Internet.

O aparelho tem uns dez centímetros de diâmetro e é quente, escaldante. Para evitar qualquer acidente felino com o dispositivo ou com os fios, está coberto com um pano.

Ás vezes é o único sítio onde consigo convencê-la a comer, tomar os medicamentos ou o líquido Semintra, para a função renal. Passa ali muito tempo.

A minha Amélinha é comprida mas pequena, muito leve e ágil.

Como permanece ali horas, tem que fazer o que os gatos fazem. Volta e meia gira discretamente sobre si mesma para encontrar uma posição melhor, fazendo-o naquele espaço tão exíguo.

O Router está ao lado da televisão, que prende, com o peso, os panos que resguardam todos os cabos dos iminentes ataques felinos.

Vira-se a cada dez minutos… Quase sempre que o faz toca nos botões laterais da TV, minúsculos e difíceis de ver.

Ou seja, está sempre a ligar o televisor. A minha Gáta quer estar informada!

O Tapete Mágico

– Eu tinha três raparigas que andavam atrás de mim. O problema era escolher. Quando decidi, ficámos logo juntos nessa noite e praticamente casados para sempre. A outra deixou de me falar! Acreditas?

Enquanto o homem, com aspecto de trabalhador manual especializado, conta as sagas da sua juventude ao colega mais novo, chega um senhor de 60 e tal anos, ar eventualmente árabe, carregado de tapetes. Decidiu que aquele comensal bem disposto e falador era a vítima perfeita.

Começam a regatear na esplanada do restaurante, entre o café e o digestivo. O operário vai gozando um bocado com o vendedor, brinca muito, mas nunca lhe falta ao respeito. Toda a gente à volta se ri.

Acaba por se decidir por um de cerca de um metro, que parece de boa qualidade. Vai custar-lhe 16 euros.

— É mágico? É por isso o preço?

Pelo meio, já com o artigo pago, liga à esposa.

– Olha, Se Eu Comprar um tapete, achas que fica bem no quarto? Queres castanho ou vermelho? Vermelho é mais bonito, não é?

A escolhar recairá, afinal, sobre o castanho.

Nisto, o comerciante quer convencê-lo a comprar um bem maior, de sala, bastante belo, com figuras e motivos tradicionais. Recorda mais ou menos uma configuração idealizada de tapete persa. 90 euros.

Não me importaria de ter aquela peça esbelta na minha casa, e acredito que possa valer esse número. Mas, hoje em dia, 90 euros são 90 euros…

O comprador, com o seu smart phone, chega à conclusão de que está com net mas sem dados, e não consegue enviar as imagens do artefacto à mulher.

A segunda parte do negócio não chega a acontecer. O ancião ainda se vira para mim, mas não tem sorte nenhuma.

Momentos depois aparece outro agente comercializador, de facas. Chamam-lhe o faquir.

– Não, não, não ponha as facas aí em cima da mesa.
– Então, achas que isto tem peçonha, C., F.?
(Deve andar a ver futebol a mais).

– Oh senhor, escusa de ser mal educado! Disse-lhe para não as pôr aí porque não vou comprar, não preciso, OK?

Vai-se embora, resmungando imprecações e insultos entre dentes.

Quero e não quero!

Crucial no dia-a-dia de um gato é o que a escovagem é. As bolas de pêlos que se acumulam no organismo provocam graves problemas intestinais e no aparelho urinário.

Ao fim de algum tempo, aquilo é como estopa ou material para calafetar, dentro do corpo dos felinos.

Assim, esta actividade não pode ser descuidada.

O que difere, muito, é a forma como cada animal reage a esta tarefa obrigatória.

Três exemplos, tirados da vida dos meus três pequenos que já não estão entre nós.

O Chiquinho, o rei da doçura e da sensibilidade. Este ser negro e etéreo parecia crer que tal rotina era algo criado para o homenagear e agradecer a sua existência, que consituía uma inspiração para quem quer que o rodeasse.

O Jeremias, meigo, fiel, irresistível, divertido e atrevido. Era preciso andar atrás dele, escová-lo um minuto e meio, ir outra vez atrás dele… O trabalho demoraria pelos menos uns dez, quinze minutos.

A Matilde, doce, carinhosa, dedicada, submissa, agradecida. Não apreciava muito que lhe mexessem, pegassem ou escovassem. A melhor hipótese era apanhá-la em cima do micro-ondas quente depois da refeição, ou nalgum lugar em que se sentisse muito segura, e aí talvez tivesse sorte.

Chegamos, assim, a Amélinha (seu nome legal), a Gáta!, a Gatínha, a Bonéquinha.

A pequena pantera mistura o melhor das características dos seus manos que já partiram.

Passa esses dez a doze minutos inteiros a ronronar e a miar… E a esquivar-se, a desviar-se, a afastar-se, a tentar morder a luva específica de borracha usada para o efeito.

Quer ser “tratada” e não o deseja. Agradece e evita. Mostra prazer e contrariedade. Enquanto procedemos a esta saga, vamo-nos deslocando pelo chão, pelos tapetes, pelo micro-ondas, pela máquina de lavar.

Este é um dos muitos e incontáveis momentos em que a vida com a Gatínha é uma Comédia romântica!

A T-Shirt

Gostava muito dela. A minha Tia Eugénia era doce, meiga e carinhosa. Partiu cedo e de forma muito triste.

Uma das primeiras vezes que fui de férias sozinho, recebeu-me na sua casa no Alentejo. Tratava-me como um príncipe, ou o filho que não tinha.

Trazia-me numa taça Estrelitas, que na altura não se sonhava existirem à venda em Portugal.

Aturava a minha adolescência e deixava-me a apanhar Sol no terraço da magnífica casa de praia.

Ofereceu-me uma T-Shirt que retratava Astérix e Obélix a combater o stress, estendidos na relva, com Ideiafix instalado sobre a barriga do segundo.

Décadas depois, tinha o artefacto mais de 25 anos, e era a peça mais antiga que possuía.

A minha então cara-metade e a mãe, duas mulheres sensíveis e delicadas, emolduraram-na, ofereceram-me esse pedaço de arte e mandaram fazer uma nova, igual.

Ganhei um lindo objecto decorativo e evocativo, que está exposto na minha sala e que contemplo diariamente. A T-Shirt ficou pronta para existir durante mais duas ou três décadas.

Sempre que observo o quadro ou visto este dois fantásticos heróis de BD penso na minha querida tia Eugénia.

O Meu Rio

Cumprimento Raja, a Cadela Tatuadora (cinzenta, porte médio, a Luz dos Olhos do tatuador brasileiro e boa onda da rua do comércio e da restauração). Minutos depois, o rio do lado direito.

As pernas levam-me, sempre a olhar para ele, aos dois restaurantes que estão encravados quase no próprio curso fluvial.

Os primeiros raios da Luz do Dia reflectem-se, em tons rosados, nas construções da margem oposta.

O caminho é de ruínas, decadência, antigas fábricas, restos de armazéns, paredes dentro das quais vivem alguns ocupantes sem casa e sem recursos.

Segue-se o jardim onde toda a gente gosta de ir, com o miradouro lá em cima a contemplar-nos.

Desço, passo por mais umas velhas instalações navais/ piscatórias/ fabris que alguém ainda usa.

Chego ao grande portão da quinta, agora sempre aberto, desde o último Verão.

Terra, lama, ruínas de grandes instalações industriais de algum tipo.

Aquele que é o Paraíso à porta de casa mostra-se à minha frente.

Lá está O Meu Rio a observar-me. A minha Ponte. E a minha Estrada Velha, destruída, clandestina.

Fazer as várias e íngremes rampas que se seguem a correr, só para atletas de alta competição. Arrasto-me, fingindo que corro, avançando muito mais devagar do que se fosse a caminhar.

Subo, trepo, elevo-me e ascendo. 15 minutos depois lá está ela, a estátua do filho do Deus dos homens.

Sendo crente, essa será uma das recompensas. Para ateus e agnósticos, não é a chegada ou o monumento o prémio. É o próprio Caminho!

Meia hora depos estou em casa a começar o meu dia. A minha amiga T. diz que quando vem à beira-rio se sente sempre agradecida.

Este é O Meu Rio!

O Cliente Kafkiano

– Olá boa tarde, aqui fala Pancrácio Benevides, obrigado por ligar para a Ziriguitu e por usar o nosso serviço. As nossas chamadas são gravadas, para efeitos de formação e qualidade. Pode dizer-me o seu nome, por favor?

-Tancredo Ubiratan.

-Muito bem, senhor Tancredo, em que posso ser útil?

-Bom, sabe, é o seguinte. Houve uma pessoa que veio ficar em minha casa só para arranjar problemas. Isto é uma armação que foi feita com o resto dos condóminos, para me criar dificuldades. Eu confesso que até tive uma atitude meio indelicada com ela, mas foi por causa disso.

Sabe, estas pessoas andam há muito tempo a tentar prejudicar-me, a querer fazer-me a vida negra.

Eu ando a reunir as provas e a documentação contra eles, antes de decidir fazer alguma coisa. Nessa altura, irei contactar-vos.

Na verdade, era só isto que queria dizer. Queria apenas que isto ficasse registado aí convosco. Era só mesmo isto, senhor Pancrácio Benevides.

-Sim senhor, muito bem, senhor Tancredo Ubiratan. Mas olhe, na verdade, quem não deve não teme. Se você tratar as pessoas correctamente, sem qualquer tipo de atitude menos própria, não tem que se preocupar, tudo correrá pelo melhor!

De qualquer forma, estaremos sempre aqui para o esclarecer ou ajudar em qualquer situação em que seja necessário. Muito obrigado por ligar para nós, e usar os nossos serviços, senhor Tancredo Ubiratan. Uma boa semana para si!

– Boa semana, e obrigado, senhor Pancrácio Benevides!

A Gáta que largou a bebida

Não foi o humano que deixou de beber, foi a “Gááta!!”. O tutor continua a aceitar umas gotas de bom tinto, como autorizam os médicos, ou uma cerveja de quando em quando.

A Gáta, Gatínha, Amélinha, é que este ano, durante uns longos tempos, decidiu que não queria nada com líquidos.

Desprezou a fonte, onde se hidratara durante anos. Não quis saber dos bebedouros. Virou costas às torneiras.

Andou nisto dias a fio. Passou a fazer soro quinzenalmente, e, mesmo assim, o rim não está grande coisa.

Estive à conversa com o grande e criativo amigo F.

Este companheiro, irmão, tem ideias interessantes e inesperadas acerca de montanhas de coisas. Com ele aprendemos e reflectimos de forma diferente.

Contou a história de outro tipo, que andava mal e queria escolher cientificamente a melhor água existente.

Espalhou recipientes em sítios diferentes, cada um com um tipo específico do precioso líquido. Aquela que a sua felina fosse ingerir seria a eleita.

Este relato deixou ideias. Instalei pela habitação, em locais distintos, pontos de humedecimento invulgares.

Tijelas, taças. Transparentes, pesadas. Até tupperwares, porque quer sempre ir lamber os que a minha mãe me manda com comida, depois de eu os usar e lavar e antes de secarem. Ou uns comedouros em forma de gato, com tentadoras orelhas pontiagudas em plástico duro.

Voltou a molhar a língua, nos recipientes esquisitos que estavam estacionados nas suas localizações favoritas.

Passados uns tempos, esta ousada estratégia perdeu parte da eficácia. Mas entretanto aconteceu outra coisa.

Consegui que a pantérinha tornasse a interessar-se pela torneira do bidé.

Ou vem atrás de mim para a casa de banho e lha abro, ou então vejo-a dirigir-se para lá e sou eu que a sigo… Também sucede, estando a meio do trabalho e das minhas chamadas, ouvi-la miar expressiva e apelativamente. Já sei o que quer.