Amor sem limites

Os lençóis sofrem uma ligeira mexida às seis da manhã. O humano levanta-se a custo.

Amélinha permanece alguns segundos sobre o édredão, depois salta para o chão e fica sobre um dos tapetes predilectos, usado pelo tutor para pousar os pés no horário de trabalho.

É ali que ronrona, se estica, enrola e mia exigindo o miminho da manhã.

O seu daddy vai correr uma hora, regressa… Gáátaa, um dos seus principais nomes verdadeiros, voltou entretanto para a cama humana, aguardando o seu adorado companheiro e pedindo mais amor.

Depois, enquanto o semi-cinquentão vai comprar o seu jornal Público em papel e alimentar os felinos da rua, a bolinha de pêlos vai para cima da máquina de lavar, junto à janela, ver a manhã acontecer.

Hora de medicação matinal e pequeno-almoço. O “papá” vai dar mais uma volta, ler as notícias a olhar para o rio em introspecção.

A próxima etapa é a montagem diária de teclado, rato, monitor, computador, transformadores e electricidade. Se Gatíínha conseguir portar-se bem e não atacar o equipamento pode assistir, caso contrário fica a miar uns minutos na soalheira cozinha.

O dia de trabalho é passado com a varanda aberta porque o humano está na sala e a bolinha de pêlos cor de azeviche só lá vai com ele, caso contrário não se interessa por tais digressões.

A doce alminha felina passa a jornada nas pernas do humano ou na parte de cima do sofá, enquanto vai sonhando, bocejando e olhando para ele.

A hora da escovagem nocturna caracteriza-se por pequenas fugas, miados e ronronados, o humano vai pegando na fofinha, coloca-a na mesa, no topo do micro-ondas, apanha-a de novo no chão, posiciona-a outra vez a jeito, mais uma escovadela, mais um tufo de pêlo velho que sai, para proteger o estômago e a saúde dela.

O telefonema diário para a mãe é acompanhado por muitos pedidos de atenção felina bem audíveis e insistentes.

Se houver um rápido serão de sofá, claro que as patinhas pretas e o dorso de mesma coloração descansarão ao colo do seu mais que tudo.

A cereja em cima do bolo é mesmo ao adormecer. Gatíínha irá nos braços do dono, ronronando sem fim, ficará alguns minutos sobre o proeminente ventre dele, sempre entoando “rrrr rrr rrr rrr”. Adormecerá depois abraçada a ele, ou sobre as suas pernas.

E amanhã há mais amor sem limites.