Minha Gáta, Meu Amor

Entre Janeiro de 2020 e Janeiro de 2021 que aconteceu?

Perdi Jeremias, o meu gato-cão, meu filhote, carne da minha carne, companheiro, companhia, amigo e minha sombra…

Vim trabalhar para casa:

Dez meses de telé-trabalho parecem estar a dar à minha Gáta (Amélinha, oficialmente) o bem estar e a tranquilidade que não tinha há muitos anos.

Na sua consulta desta semana, os indicadores de saúde apareceram quase todos a mais de 100%.

Análises, apetite, peso, energia, boa disposição.

Parece que, com a pandemia e o seu humano sempre em casa, a Bonéquinha está a viver a sua Segunda Vida.

Agora até vamos os dois para a varanda… Cheia de curiosidade e assombrada pelo medo, ela decide ficar onde se sente sempre bem. Ao colo do seu humano.

Assim, goza os cheiros, sons, sensações e prazeres da rua, em perfeita e total segurança.

Estica-se e contorce-se para seguir os ruídos e os movimentos. Mas sempre sem sair das pernas do seu deliciado tutor.

Dorme na minha cama. E, com a temperatura mais baixa, já passa a noite inteira debaixo do édredão, abraçada e encostada a mim, a ronronar.

Era o que faziam os manos, o Jeremias e a terna e linda Matilde, quando ainda adoçavam o nosso Mundo.

Já o Chiquinho, o inesquecível gato preto que me deu sorte, só fez isso uma vez. Ele gostava mais de presidir a tudo, sobre as minhas mantas. Afinal, era mesmo O Meu Rei…

Ficámos nós, Gatinha. Eu e tu somos a soma de tudo o que vivemos os cinco no passado.

De todo o amor, de todo o prazer, de todo o carinho, de toda a felicidade.

Felina que me guia e deleita todos os dias, Gáta, tens que existir mais uns cem anos.

Eu cá estou, para que esses cem anos te sejam seguros, felizes, amáveis e bem prazenteiros, minha Gata, meu amor!

A Gata

Ausente deste mundo há um mês, o Jeremias — e a mana Matildinha, que partiu antes –, ensinaram-me a gostar desses seres que miam, ronronam e tornam a existência dos humanos mais suave e agradável.

Os manos tigres abriram o caminho para o Chiquinho, o Gato Preto que me deu sorte e foi o amor felino da minha vida, até há dois anos.

Esses três adultos sábios, empáticos e filosóficos eram os protectores da Amélinha, A Gata, Boneca, Bonequinha ou Munéca, as suas várias encarnações.

Desde há um mês, A Gata é a minha vida e eu sou o mundo d’A Gata.

A Doutora dos Gatos, a divina Dra. Helena Viana, explicou que “os gatos são estranhos, e há gatos que não se importam de ser gato único”. É isso que se passa.

Estando eu pandemicamente a telé-trabalhar, A Gata tem agora o seu humano com ela, dia e noite, 24 horas por dia, sete dias por semana.

Durante o turno de trabalho, fica permanentemente ao meu colo.

À noite, porque ama dormir comigo mas é um pouco distraída e por vezes se esquece, vou sempre buscá-la, da sala para o quarto.

Ronrona sonoramente durante muito tempo; fica em contacto com a minha pele alguns minutos; depois, embora tenha do lado direito diversas mantas polares à escolha, e as adore, prefere ficar por cima do édredão… E do seu humano.

Descansa durante sete horas sobre mim, sem se mexer. Tem oitos anos mas só pesa três quilos. Às vezes nem sei bem se está ali ou não, de tão leve que é.

Levanto-me e reiniciamos a nossa doce e terna saga.

Durante o telefonema diário para o meu pai e a minha mãe, passa o tempo a fazer disparates pela casa e a miar insistentemente para mim e o telefone.

A minha mãe diz que ela está “a cumprimentar a avó”.

É uma existência de miminhos, festinhas, miados, a ronronar sem fim. E fazemos por aproveitar cada hora, cada minuto e cada segundo.