Não foi o humano que deixou de beber, foi a “Gááta!!”. O tutor continua a aceitar umas gotas de bom tinto, como autorizam os médicos, ou uma cerveja de quando em quando.
A Gáta, Gatínha, Amélinha, é que este ano, durante uns longos tempos, decidiu que não queria nada com líquidos.
Desprezou a fonte, onde se hidratara durante anos. Não quis saber dos bebedouros. Virou costas às torneiras.
Andou nisto dias a fio. Passou a fazer soro quinzenalmente, e, mesmo assim, o rim não está grande coisa.
Estive à conversa com o grande e criativo amigo F.
Este companheiro, irmão, tem ideias interessantes e inesperadas acerca de montanhas de coisas. Com ele aprendemos e reflectimos de forma diferente.
Contou a história de outro tipo, que andava mal e queria escolher cientificamente a melhor água existente.
Espalhou recipientes em sítios diferentes, cada um com um tipo específico do precioso líquido. Aquela que a sua felina fosse ingerir seria a eleita.
Este relato deixou ideias. Instalei pela habitação, em locais distintos, pontos de humedecimento invulgares.
Tijelas, taças. Transparentes, pesadas. Até tupperwares, porque quer sempre ir lamber os que a minha mãe me manda com comida, depois de eu os usar e lavar e antes de secarem. Ou uns comedouros em forma de gato, com tentadoras orelhas pontiagudas em plástico duro.
Voltou a molhar a língua, nos recipientes esquisitos que estavam estacionados nas suas localizações favoritas.
Passados uns tempos, esta ousada estratégia perdeu parte da eficácia. Mas entretanto aconteceu outra coisa.
Consegui que a pantérinha tornasse a interessar-se pela torneira do bidé.
Ou vem atrás de mim para a casa de banho e lha abro, ou então vejo-a dirigir-se para lá e sou eu que a sigo… Também sucede, estando a meio do trabalho e das minhas chamadas, ouvi-la miar expressiva e apelativamente. Já sei o que quer.