Não era a primeira. A maratona inaugural tinha acontecido meses antes, e foi nela que quebrámos as barreiras, incluindo o conhecido muro metafórico dos 30 quilómetros: Onde se percebe se vamos chegar ao fim ou não.
Mas era a primeira Maratona de Montanha. A Montanha era a Serra de Monsanto, que é mais que suficiente para testar os músculos, os tendões, e, claro, a força de vontade.
A pandilha dos maratoneiros, eu, o Pedro (o guru) e o João (o motivador), além de já ter uma recente prova de 42 quilómetros em estrada no currículo, tinha andado a preparar-se.
Faziam-se ensaios em Serra, nas várias zonas deste tipo na Grande Lisboa. E também algumas corridas ao fim do dia, hora da prova de Monsanto.
O Pedro preparava o programa de treinos, dava conselhos sobre a alimentação, o João dizia que conseguíamos.
Naquele dia de Verão estava muito calor, tanto que o evento foi passado para dali a a umas horas.
Ainda que tivesse feito preparação nocturna, o organismo estava habituado a viver e treinar de manhã, desde sempre.
Nessa época, vergonhosamente, ainda comia alimentos de origem animal. E o almoço fora um prato com carne e grão.
O efeito do calor, da noite, da inclinação do terreno, do cansaço e da refeição mal digerida foi atómico.
Aos 10 quilómetros já me arrastava. Aos 15 mal corria. A partir daí até aos 42 foi mais tempo a andar que a correr.
Cheguei ao fim, feito em pedaços.
Aprendi a lição. Para a prova de montanha do ano seguinte fiz muitos treinos, corri mais à noite e tive todo o cuidado com a alimentação no dia da corrida.
Na segunda maratona de montanha, houve pouco mais de dez quilómetros em que andasse em vez de correr. Ainda me perdi e fiz uns a mais. Cheguei ao fim cheio de energia, a correr no que me parecia alta velocidade.
Já fiz quatro maratonas. Duas de estrada, duas de montanha. Corro uma hora todos os dias. O mais difícil é começar.