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O Medo

As folhas das árvores rumorejam ao sabor da brisa.

O uivo do vento vai crescendo devagarinho, até parecer um animal desconhecido e acossado.

Grossas gotas caem sobre as janelas e as vidraças abanam.

O céu do crepúsculo cobre-se de nuvens negras que anunciam a chegada apressada da noite.

Na casa antiga, as vigas de madeira emitem estalidos, gemendo como que providas de vida própria.

No interior das paredes velhas e decadentes, ouvem-se ruídos bizarros que recordam tempos perdidos.

O ar torna-se pesado e abafado, a tempestade fustiga o telhado sem clemência.

Trovões tenebrosos parecem prontos a despedaçar portas e tectos sem piedade.

O brilho da última candeia morre nos confins da noite.

Fossemos personagens desesperadas de uma história proibida e aterradora, então o que aconteceria?

Poderia saltar para fora de um quadro a óleo de moldura dourada a figura de um autoritário juiz, que tivesse ficado na História porque todos os seus réus acabaram na forca.

Viria na nossa direcção, os olhos injectados de sangue, a corda enrolada à volta do pulso.

Um desvairado patriarca ancestral que se tivesse entregue ao culto de Satã poderia fazer de nós as suas próximas vítimas.

Ratazanas sobrenaturais do tamanho de cães, cegas e sem as patas da frente, reunidas aos milhares, viriam de pronto saciar a sua sede na nossa carne.

Tudo isso poderia, muito naturalmente, suceder. Se esta fosse uma tresloucada e arrepiante história do outro mundo.

Mas não! Felizmente, não se trata de nada disso.

Vive-se apenas a Realidade Real, uma jornada cinzenta e chuvosa de Outono, nos subúrbios obscuros da capital.

É só mais uma etapa, horas de escuridão iguais a tantas outras.

Portanto, está tudo bem…

Algumas Fontes usadas livremente neste artigo:
"Contos de Terror e Arrepios", Bram Stoker; "O Turno da Noite", Stephen King

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