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Odeio a Noite

Odeio profundamente a noite.

Não é por achar que de repente aparecerá do ar uma vampira arrepiante e irresistível, que vai sugar o meu sangue, engolir os meus ossos, triturar e cuspir sem contemplações a minha carne.

De modo algum acredito que chegue para aí um lobisomem pronto a mastigar os meus braços e despedaçar o meu crânio.

Não me parece que desçam cá os extraterrestres, entrem dentro dos meus olhos, possuam o meu espírito e me transformem num assassino em série.

Nem mesmo estou a ver que o meu velho Clio a gasóleo ganhe de súbito vida própria, decidindo comprimir debaixo das suas rodas todos os habitantes do prédio, do bairro e da cidade, antes de se dedicar a mim.

De forma nenhuma considero credível que renasçam das paredes seres ancestrais há séculos ofendidos e enganados pelos meus antepassados, para se entregarem, de espada e clava em punho, a exigir satisfações.

Não, não. Antes fossem esses os meus problemas.

É por outros motivos que abomino a hora das estrelas.

E são os mais prosaicos: A escuridão é para dormir, o dia é para viver.

Por essa razão detesto estar das cinco da tarde às duas da manhã, e não num período mais diurno, a escutar as queixas, os dilemas e as reclamações dos clientes da empresa.

Levanto-me ferido e estropiado, tal como se uma horda de mortos-vivos tivesse feito durante horas sapateado sobre a minha cara.

Só estou verdadeiramente no Mundo depois do quinto café.

Não sou uma criatura das trevas. Sou um ser da Luz.

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