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Depois do Fim

Carta do Futuro, a um amigo ausente em parte incerta

Caro Judson Eliaddi, Jed, um bom dia para ti e espero que te encontres bem.

J., aqui no nosso canto, um dos últimos redutos da Civilização, tudo corre como pode.

As chuvas têm alagado parte das culturas que se encontravam de pé.

Depois do Regresso da Grande Peste, a Humanidade passou de oito mil milhões para apenas dois mil milhões.

Quase tudo o que restava da organização económica planetária caiu por terra.

Ficaram apenas alguns minúsculos estados localizados, onde ainda é possível produzir o suficiente para manter as reduzidas populações que aí subsistem.

Não sei se vais chegar a ler estas palavras.

Nem sei se estás vivo.

Os sistemas de transmissão de informação que tinhamos até 2050 desapareceram quase todos.

Temos as comunicações via rádio e as cartas, como esta. Raramente sabemos se chegam ao destino, ou quando.

A maior parte dos humanos que restaram tornaram-se vegetarianos. As comunidades cultivam o que podem, retiram o sal da água dos oceanos e vivem com a alimentação racionada.

Os chefes locais são escolhidos pela força ou pelo mérito em defender e organizar a sua tribo.

Aqui em Almsningel temos a sorte de ter um líder que não trata mal a população.

Tenta que toda a gente tenha mais de uma refeição por dia, que as crianças sejam assistidas pelos médicos-curandeiros e que não haja muitos conflitos com as cidades próximas.

Devo dizer-te, que, daqui dos meus 35 anos tão saudáveis quanto é possível neste mundo, tenho o projecto de constituir família, deixar a minha marca impressa no curso das coisas.

Não é fácil, já que as mulheres interessantes são comprometidas, e ir para outros sítios começar nova vida, a pé por centenas de quilómetros, não tem qualquer viabilidade.

Ficará talvez apenas como um sonho.

Por enquanto vou-me dedicando aos meus esforços como agricultor, aquela que é a actividade de quase todos nós agora.

Entre as favas, os feijões, as batatas, os tomates, as laranjas, as maçãs e a tentativa de manter tudo isto regado e a salvo das intempéries, vou fazendo a minha vida.

Se alguma vez esta carta chegar a ti, caro Jed, espero que te encontres bem. Tanto como eu, e, se possível, melhor.

Abraços ternos,

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