“Eles vêm buscar-te na mesma!”

Estava a pensar fazer-me sócio dos bombeiros”, diz um dos homens sentados no café. “Só que eles cobram 25 euros de inscrição, além da mensalidade (que até é barata), por isso não sei”.

Era uma maneira de ajudar os soldados da paz, que dão tudo e tudo sacrificam por nós, incluindo a vida. Além disso, pensa, um dia pode precisar de ser transportado por eles numa ambulância.

O seu amigo, mais directo e pragmático, responde imediatamente: “Mas olha lá, mesmo que tu não sejas sócio dos bombeiros, se tu precisares da ambulância, eles vêm buscar-te na mesma!”.

Bom, está bem. Mas também posso ir à cafetaria dos bombeiros, onde os preços são mais baixos”.

Sim, mas mesmo que não sejas sócio, podes ir lá na mesma e pagar esses preços!”.

E a esse propósito, o segundo homem dá um segundo exemplo. “Eu sou sócio numa associação recreativa. Pago uma mensalidade. Mas, por isso, tenho benefícios. Pago preços mais baixos, e tenho outras vantagens”.

A conversa dos dois homens, ouvida entre um café e um copo de água, merece ser digerida.

Não é que apagar os fogos quando já estão largamente espalhados, com equipamentos pagos a peso de ouro a empresas privadas (e sem que os meios da Força Aérea tenham uma grande intervenção no processo) seja a melhor das soluções.

Há muitos anos que oiço dizer que se devem limpar, proteger e vigiar as florestas, evitar que haja condições favoráveis ao acontecimento de incêndios, observar o terreno permanentemente e detectá-los logo no início. Mas está visto que isso nunca acontece.

No entanto, sendo os fogos o drama e a ameaça que são, depois de acontecerem, os bombeiros são os únicos que nos podem ajudar contra eles. Isso, condimentado com o facto de um belo dia podermos precisar de ser levados por eles numa ambulância, seria uma boa razão para ajudá-los.

Mas a tal resposta do segundo homem, na sua perspectiva fria e carente de altruísmo, parece encerrar uma lógica inatacável: “Se tu precisares eles vêm buscar-te na mesma, mesmo sem seres sócio”.

O que comerá o Sparky esta noite?

O que comerá o Sparky esta noite? E o seu dono, que vive na rua, não tem nada mas o pouco que tem é para o amado e bem tratado companheiro de quatro patas? Ou a Vanda, ela e o marido desempregados, com dois gatos e um cão, sem dinheiro para a ração, a esterilização, a desparasitação? E o que fará a Plataforma Proanimal, que anunciou já não ter capacidade para recolher mais cães e gatos da rua, devido às despesas veterinárias com aqueles que tem sob a sua protecção?

É com milhares de casos destes que a Animalife lida todos os dias. A associação apoia pessoas sem abrigo e famílias carenciadas com animais, além de associações de protecção animal, lutando dessa forma contra o abandono de animais de estimação, e pela promoção do seu bem estar, saúde e qualidade de vida.

Para fornecer as 160 associações de protecção animal que apoia, e as centenas de famílas carenciadas com animais e pessoas sem abrigo com animais que ajuda, a Animalife tem uma grande acção nacional que acontece duas vezes por ano,em conjunto com essas mesmas associações.

Este fim-de-semana nos Continente e Bom Dia de todo o país, no próximo fim-de-semana nos Modelo e nos Pets & Plants, acontece o Banco Solidário Animal. Milhares de voluntários estão nas lojas, das nove da manhã à meia noite. A fazer o quê? A recolher ração, acessórios, areia, todo o tipo de produtos de que estes animais necessitam de forma crucial.

Todos os sacos de ração contam. Todas as latinhas de patê são necessárias. Todas as embalagens de areia farão a diferença.

A história de Wiko

É um doce bebé-cão de dez meses, amigo, sociável, constantemente ansioso por agradar e a todos conquistar. Mesmo assim, apesar de tudo fazer para que o seu amor e dedicação absoluta aos humanos fossem reconhecidos, o Wiko, um cachorro adoptado graças à União Para a Protecção dos Animais, não conseguiu levar a que se abrisse o coração de um dos três membros humanos da sua família, e foi devolvido.

Uma das pessoas dessa família de três não quis que ele ficasse a viver lá em casa. Os outros dois familiares ficaram roídos e arrasados de tristeza e foram levá-lo de volta à UPPA.

O Wiko, esse ser fiel, meigo e incondicionalmente dedicado, não percebeu, de todo, o que lhe aconteceu. O amor que ele deu em quantidades maciças não foi retribuído. Dá a ideia de que o cão, uma espécie que faz tudo e dá tudo pelos humanos, não deve conseguir compreender uma coisa destas.

Quem gosta de cães e gatos indiscriminadamente pode ter mais tendência para uma ou a outra espécie, por esta ou aquela razão. E reconhecerá que são diferentes, da mesma forma que as pessoas são diferentes, e que também não há dois cães iguais ou dois gatos iguais. Mas, a gostar verdadeiramente deles, cães e gatos, coloca-os em patamares iguais.

E enquanto falava sobre isto com as minhas queridas e gentis amigas da Animalife, pensava… Quando conheci a antiga dona de alguns dos meus gatos actuais, ela tinha um lema engraçado. “Quem quiser alguma coisa comigo, se não gostar de gatos, então que vá à sua vida!!”.

Na altura gostava dos companheiros de quatro patas – dos outros – e aquela frase não me fazia qualquer confusão. Hoje, tal como as minhas amigas da Animalife, digo exactamente o mesmo. Se alguém quiser alguma coisa comigo, é bom que goste muito de gatos (ainda por cima, é tão fácil gostar dos meus!). Se não gostar, bem pode lá ir à sua vidinha, que não faz cá falta nenhuma!!

A história do Wiko, aqui.

 

O sistema já está a funcionar!

A mulher de cabelos castanhos e compridos, óculos grossos, dentes salientes e disposição sempre cordial, na sua secretária atrás do computador, já me conhece, depois de muitas visitas e peripécias. Antes de chegar a ela vejo várias pessoas sentadas, de papel na mão, à espera. Não é normal.

Não, hoje, não é possível fazer o registo. É melhor vir à tarde, ou amanhã”.

Depois de um almoço rápido, volto.

Não, continua a não ser possível. Deixe-me o seu contacto. Ou eu ligo-lhe ou volte amanhã”.

A meio da tarde, entre as múltiplas actividades da associação Animalife e a luta contra o abandono de animais de estimação, o telemóvel toca.

É da Junta, não é?”.

Sim, sim. O sistema já está a funcionar. Pode vir cá amanhã, ou quando quiser”.

Regresso no dia seguinte.

Aqui está a prova de que fez a sua apresentação quinzenal. E de que não é possível marcar uma nova, porque já não são obrigatórias”.

Hm. E agora, em alguma altura, alguém me vai dizer algo sobre o que é para fazer a seguir, certo?”.

Com a mão, faz um gesto vago e abrangente, pleno de significados. Um dia vão dizer-me alguma coisa… Nunca vão dizer-me nada? Algo a meio caminho…

O Governo acabou com a obrigação de apresentação quinzenal dos desempregados, que será substituída por outras formas de acompanhamento e controlo de quem não tem trabalho. Formas essas que, para já, ninguém sabe quais são.

Os gatos vegetarianos

Acabo de apresentar na Bertrand o livro Cozinha 100% Vegetal e Saudável, da minha ex-aluna Carina Barbosa. Por comodismo e preguiça como carne e peixe, e ela, que me convidou para apresentar o livro, sabe disso.

Mas este livro deixou-me a pensar sobre o assunto. Nós, pessoas, temos o direito de matar e manter em sofrimento absoluto e permanente biliões de animais cuja sensibilidade e inteligência não é diferente da dos cães e gatos que tanto amamos e acolhemos como membros da nossa família, que são? Quando, como este livro demonstra, prova e exemplifica, é fácil, simples e saudável adoptar uma alimentação sem carne?

Vejam o vídeo aqui!

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Cozinha 100% Vegetal e Saudável explica-nos o que são os vários tipos de vegetarianismo e o que é o veganismo. Mostra como e o que fazer para realizar a transição para uma alimentação vegetariana e uma vida livre de produtos de origem animal: Livre da responsabilidade de causar e financiar sofrimento e crueldade.

E tem a parte principal, mais agradável e apelativa. Mais de cem receitas vegetarianas para todos os dias e alturas do ano. Para o pequeno-almoço, almoço, jantar e refeições intermédias. Pratos rápidos e simples, e, também, iguarias de mais elevada elaboração, para os dias especiais.

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A Carina explicou-me que o segredo é pegar em todos os pratos que nós adoramos e comemos durante toda a vida, retirar a carne, substitui-la, e manter tudo o resto igual. Voilá: Uma maravilhosa feijoada, cozido, bacalhau à braz ou dobrada… Vegetarianos, sem carne nem peixe. É possível. E ela fá-lo todos os dias.

A autora levou para a apresentação meia dúzia de acepipes, coisas práticas e fáceis de transportar. Pão vegan com chocolate vegan, ou com queijo vegan, bolo de chocolate com as mesmas características, bolo de bolacha, ídem ídem aspas aspas. Só vos digo que, depois de provar aquilo tudo múltiplas vezes, senti uma vontade avassaladora de me tornar vegetariano imediatamente.

Já agora, também há gatos vegetarianos, como por exemplo os da Carina. Sobre isso, ela pode explicar-vos tudo. Mas, obviamente, não façam qualquer alteração na alimentação ou no quotidiano dos vossos animais sem, primeiro, falarem com o vosso veterinário de confiança. Eu nunca o farei e nunca o faria, e os meus gatos continuam a ser carnívoros.

Quem quiser falar com a autora do Cozinha 100% Vegetal e Saudável pode fazê-lo através do site dela, www.veggitableblog.com.

“Mas… Mas… Não quer um telefone?!”

Do outro lado da linha ouço a voz, profissional e com poucas inflexões. “Boa tarde. Fala a Maria Joaquina, da Meo. Senhor Vasco Ventura, tem possibilidade de falar um pouco connosco agora?”.

“Bem, estou um pouco apressado, mas prefiro responder já do que deixar para depois. É rápido?”.

“Tentaremos ser breves”.

“Muito bem. Diga, então”.

“O senhor Vasco estaria interessado em comprar um novo smartphone, um equipamento com câmara, internet, écrã de alta resolução, de elevada qualidade, da marca x, podendo adquiri-lo a preço mais baixo, graças aos seus pontos acumulados na Meo?”.

“Não”.

“Não?”.

“Não”.

“Não?!”.

“Não”.

“Porquê, senhor Vasco?”.

“Porquê… Ora, não quero, pronto”.

“Mas… Porquê…?!?!?! O equipamento que está a usar acabou de ser comprado agora? Existe alguma outra razão?”.

“Não, não existe nenhuma razão… Tem que existir uma razão? Não quero, ponto final”.

“Ah… Está bem… Senhor Vasco, vamos alterar o seu tarifário. Continuará a pagar dez euros, terá chamadas e mensagens ilimitadas para todas as redes fixas e móveis e vamos duplicar o seu número de dados. Interessa-lhe?”.

“Sim, sim”.

“Muito bem. A alteração será efectuada dentro de 24 horas. Tem mesmo a certeza de que não quer um equipamento novo?”.

“Sim, sim”.

No nosso mundo e na nossa sociedade parece algo bizarro, de outro planeta, que alguém não queira comprar um smartphone novo, um I-Phone 7, um Samsung, um Huawei, um tablet da melhor marca, um portátil de elevada capacidade, de última geração, um écrã gigante doméstico (para fazer o quê?!), um sistema de som surround e ter isso tudo ligado em rede, a funcionar em sintonia ao mesmo tempo.

Uma das coisas boas que a condição de desempregado nos dá é que nos estamos mesmo completamente nas tintas para toda essa tralha vazia, inútil e desprovida de qualquer significado para a vida espiritual da humanidade.

A Minha Doutora

Às oito e meia já lá está, com um ar fresco e bem disposto como uma colegial. Quer saber tudo sobre os meus quatro companheiros felinos. Como está o peso, se as unhas estão grandes, se o bom humor deles se mantém.

Inspecciona o peito da Matilde para ver se não tem nódulos, o queixo do Jeremias para saber se está com acne, diz olá à Amélinha, isto é, a “Gáta!”, observa o estado de espírito dela, verifica os brônquios, a respiração e a temperatura do Chiquinho.

Deseja também averiguar do bem estar do dono. Se anda ocupado, se está contente, se já arranjou trabalho.

Administra à Matilde e ao Jeremias o soro, o ornipurol, o cerénio. Comenta as suas gramas a mais. Depois de se mudar e reduzir a ração, agora, das duas uma. Ou vão os quatro de trela correr diariamente comigo ou metemos um ginásio e uma passadeira em casa!

Ao longo dos anos, vai adequando e ajustando a medicação dos pequenotes, e aconselhando também uma vida saudável ao dono. Atende os meus telefonemas em qualquer altura e responde sempre rapidamente às minhas mensagens.

Sendo a realidade das clínicas veterinárias o que é, a Minha Doutora faz tudo o que está ao seu alcance para que os meus pequenos sejam tratados principescamente e tenham acesso a todos os cuidados de saúde e mais alguns, sem que isso leve completamente à falência bancária.

É conhecida como A Doutora dos Gatos, embora a sua dedicação e talento sejam iguais com os cães. Mas os gatos e os seus donos são muitas vezes seres sensíveis e delicados, que precisam de um cuidado e atenção especial. É por isso que a procuram, porque sabem que com ela encontram sempre tudo isso. É a Minha Doutora, a Doutora dos meus gatinhos.

“As pessoas já não ligam aos aniversários!”

Liguei-lhe e atendeu-me com a boa disposição habitual. “Sim, está a ser um bom dia. A tua mana vem cá hoje, já telefonou. Fui apanhar uns figos. Já há poucos mas são bons!”.

Respondo-lhe. “75 é um bom e belo número! Espero que continues a ter um bom dia!”.

No fim-de-semana, dou-lhe uma garrafa de uma cerveja portuguesa especial, e um vinho alentejano. Se for demasiado caro ele vai reclamar, ainda por cima comigo desempregado… Mas parece que acerto na moderação do preço e na qualidade do líquido.

Ah, sim, a minha irmã e os teus tios ligaram-me, sim. Sabes que hoje em dia as pessoas já não ligam a essas coisas! Nem eu ligo!”. A minha mãe ri-se um bom bocadinho às escondidas, encolhendo os ombros e dizendo tudo.

Durante toda a semana, sinto a falta do almoço com o meu pai e a minha mãe. Adoro ouvir as histórias de quando ele era míudo, há setenta anos. Os relatos do que se passava num Alentejo profundo e ancestral. Os cromos, as figuras, as personagens. O Lágotinho, o Parvinho do Malhadil que, corrige sempre a minha mãe, era tudo menos parvinho.

As palermices e cabriolices que o meu pai e os amigos faziam, as aventuras nos bailes e barrancos, os sustos e os pequenos prazeres de uma vida simples e difícil.

Fazemos um brinde com a excelente pomada que o meu pai comprou hoje. À vida, aos anos, à saúde, à felicidade. “E que sejam sempre, também, com o vosso carinho aqui ao lado”. Parabéns, papá.

“Quando a gente anda naquilo não queremos saber de mais nada!”

Uma máquina de flippers funciona, naturalmente, com moedas, e felizes de nós os que já brincaram com uma. Mas há muito mais ciência por detrás deste engenho de um ou dois metros, com bonecada, patilhas manipuláveis e uma bola deslizante e incontrolável lá dentro. Não basta ir a um salão de jogos para perceber isso. Há um processo revolucionário que envolve a moeda e uma prata de um maço de tabaco, de preferência mais resistente, como a de um SG filtro.

O homem que vive à frente da garagem domina este conhecimento (também este) com mestria, e transmite-nos essa sabedoria com exactidão e detalhe. O problema é que, a meio destas lições sincopadas, nem sempre coerentes e fascinantes, acabamos sempre por nos perder por completo.

Junto à Igreja, três homens lamentam-se e criticam a voz desconhecida que ali fez chegar uma ambulância do INEM por brincadeira, enquanto aceitam a sandes, o bolo e o iogurte para ludibriar a fome.

O homem que saiu da rua pelos seus próprios meios está esta noite um pouco estranho e diferente. Ao contrário do habitual, todos lhe notam hoje um brilho de tristeza e melancolia nos olhos, mas não quer dizer o que se passa.

Encontramos perto do Marquês de Pombal um homem que já foi toxicodependente e está em pós-recuperação. Tem hipótese de ir temporariamente para um albergue mas ainda está a habituar-se à ideia. Relata que, quando andava metido naquilo, nada lhe importava. Só de manhã, a ressacar, se sentia incomodado. Estar ali na rua, à vista de toda a gente, em estado de degradação, perturbava-o nessas alturas.

Agora que está livre, sente a discriminação de quem passa. Há muita. As pessoas julgam pelas aparências.

Há dias encontrou junto a uma sapataria, no chão da rua e sem dono, uns ténis modernos e novinhos em folha, sem um risquinho sequer. Não eram de ninguém e levou-os. No dia seguinte adormeceu na rua… Quando acordou, já lá não estavam.

O homem simpático que gosta de leite e iogurte só quer a parte líquida da oferta e dispensa o resto. Esta é uma noite de grande agitação, a balbúrdia é completa no centro de Lisboa, há gente e mais gente. Está desconsolado. “Isso é um engano. Vem um, estaciona, e depois já não sai dali e não vem mais nenhum. Já estou farto disto. Estou com uma dor de cabeça… E estou aqui à espera que cheguem três condutores que estacionaram, em vez de ir dormir”!

Com os seus obrigatórios e convenientes coletes reflectores (personalizados com os pins e crachás do seu agrado individual), os voluntários da Comunidade Vida e Paz e da Animalife, que apoiam as pessoas sem abrigo de Lisboa e os seus animais, parecem verdadeiros extraterrestres. Percorrem a Avenida da Liberdade durante a confusão absoluta da Vogue Fashion Night Out, em que todas as meninas de minissaia e decote, namorados de pólo e calça de tecido, senhoras de vestidos prateados esvoaçantes e rapazes de chapéu e camisa bem direitinha e lustrosa saem à rua.

Procuram as promoções, descontos e ofertas das marcas de roupa mais caras da cidade, e do Mundo. Ficam atordoados e espavoridos quando vêem este grupo de oito pessoas que vem alimentar e ouvir  as outras pessoas, as que dormem no chão, se deitam num pedaço de papelão e não têm o que comer, com quem falar ou como encontrar um caminho na vida. “Mas… O que andam eles aqui a fazer?!”, perguntam os seus olhos aturdidos.

Serás sempre o primeiro

De vez em quando apareces-me com umas manchinhas de caspa, e isso é que não pode ser. Descobri, através das fontes mais credíveis, a forma eficaz e natural de combater esse problema. Muitas semanas depois, ontem e hoje, repeti o processo.

Puxei-te o lustro, cuidadosa e dedicadamente, durante um bom bocado. Primeiro com um pano húmido, depois com um seco e depois com outro mais absorvente. Ficaste com um ar ainda mais limpinho, hidratado, liso e brilhante.

Nos últimos meses, e anos, tens-te lamentado muito, na tua voz carinhosa, humana, impossível de ignorar ou de não reagir. Querias ser o único no Mundo para mim, como acontecia no princípio. Não desejavas disputar a minha atenção, o meu carinho e o meu amor com mais ninguém.

Quando me massajas o estômago suave e delicadamente, é isso que me dizes: “pertenço-te, a ti, a mais ninguém e exijo o mesmo de ti”. Quando te esqueces, por uma fracção de segundo, de me dar as boas vindas ao fim do dia, lá vens tu logo imediatamente a seguir. “Olá! Estou aqui! Desculpa! Adoro-te”.

Se estou a almoçar ou a jantar, cobiças sempre gulosamente o meu prato. Não pode ser, faz-te mal, e tu já percebeste. A divertida e engraçada vingança segue-se. Mordes-me docemente o pulso, a pulseira, o relógio, o braço, os óculos que ficam em cima da mesa. De vez em quando tenho que te “ralhar” (pois, está bem!) para conseguir continuar a comer.

Passaram seis anos desde que me saltaste para o colo pela primeira vez e ficámos juntos para sempre, Chiquinho.

Todos os meus quatro pequenos e doces familiares e coabitantes são a coisa mais bela e querida que tenho na vida. Tu serás sempre o primeiro, o Meu Chiquinho, o começo da História. O princípio de tudo. Parabéns e obrigado por estes seis anos de felicidade, Chiquinho. Tantas coisas boas e tantas mudanças na nossa vida, e no teu aspecto, desde esta tua foto, Chiquinho!