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“As pessoas já não ligam aos aniversários!”

Liguei-lhe e atendeu-me com a boa disposição habitual. “Sim, está a ser um bom dia. A tua mana vem cá hoje, já telefonou. Fui apanhar uns figos. Já há poucos mas são bons!”.

Respondo-lhe. “75 é um bom e belo número! Espero que continues a ter um bom dia!”.

No fim-de-semana, dou-lhe uma garrafa de uma cerveja portuguesa especial, e um vinho alentejano. Se for demasiado caro ele vai reclamar, ainda por cima comigo desempregado… Mas parece que acerto na moderação do preço e na qualidade do líquido.

Ah, sim, a minha irmã e os teus tios ligaram-me, sim. Sabes que hoje em dia as pessoas já não ligam a essas coisas! Nem eu ligo!”. A minha mãe ri-se um bom bocadinho às escondidas, encolhendo os ombros e dizendo tudo.

Durante toda a semana, sinto a falta do almoço com o meu pai e a minha mãe. Adoro ouvir as histórias de quando ele era míudo, há setenta anos. Os relatos do que se passava num Alentejo profundo e ancestral. Os cromos, as figuras, as personagens. O Lágotinho, o Parvinho do Malhadil que, corrige sempre a minha mãe, era tudo menos parvinho.

As palermices e cabriolices que o meu pai e os amigos faziam, as aventuras nos bailes e barrancos, os sustos e os pequenos prazeres de uma vida simples e difícil.

Fazemos um brinde com a excelente pomada que o meu pai comprou hoje. À vida, aos anos, à saúde, à felicidade. “E que sejam sempre, também, com o vosso carinho aqui ao lado”. Parabéns, papá.

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