A morte ou a vida

Os brasileiros, e uma semana depois os votantes norte-americanos das eleições intercalares do Congresso, preparam-se para ditar a sua preferência entre a Democracia e as trevas.

Bolsonaro e os que o admiram a ele e a Trump representam propostas e práticas tenebrosas e sinistras.

O Presidente brasileiro é um ponta de lança do fascismo e da extrema direita.

Alguém que tem por objectivo destruir a Liberdade, a Democracia, a Floresta Amazónica, espezinhar e retirar do caminho os indígenas, passar um rolo compressor sobre os direitos das mulheres, das minorias étnicas e sexuais.

Como disse a jornalista e activista Eliane Brum, entrevistada pelo jornal Público, se o Presidente ganhar, a Floresta Amazónica acaba.

A escolha entre Lula e o candidato fascista, afirma ela, é entre um projecto de morte e uma possibilidade de vida.

Neste fascículo, e no capítulo que se seguirá uma semana depois nos Estados Unidos, é isso que está em causa.

A gozar com os contribuintes

A gozar com os contribuintes

Um inocente post numa rede social provou rapidamente que várias pessoas foram vítimas de um erro informático misterioso que lhes fez desaparecer o NIB (IBAN) do Portal das Finanças, levando a que não recebessem atempadamente o apoio extraordinário de 125 euros.

O Ministério das Finanças divulgou um Comunicado Cretino que atribuía as culpas aos contribuintes, insinuando a sua burrice, ignorância ou descuido. Que tinham informações diferentes em sítios diversos, que não actualizaram os dados, isto e aquilo. Mentira.

Em minutos, uma mão cheia de pessoas informaticamente competentes confirmou que nunca mudaram a informação do NIB no Portal das Finanças, que a tinham mais que correcta e actualizada, e o tal NIB, sem qualquer explicação, de repente desapareceu ou foi substituído por um antigo e desactivado.

O Outro dizia que não acreditava nas bruxas, mas que elas existem, existem. É o mesmo que dizer que não há coincidências, ou que o Pai Natal não passa de ilusão infantil.

Nasceu para me fazer feliz

Parecia que estava tudo decidido.

Havia uma família feliz de dois humanos e três gatos, anjos que asseguravam a felicidade constante lá em casa.

E também a vontade de adoptar um quarto felino, um bebé que viesse completar o quadro.

No hospital, numa gaiola cheia de “macaquinhos” pretos ronronantes, uma pantera mínima e veloz veio logo meter-se com os nossos dedos.

Aí sim, é que o destino começou a trabalhar.

Esta Eusébiazita de unhas afiadas não saltava, voava pelos cantos da clínica, de tal modo que quase a perdíamos logo nas primeiras horas.

Tiveram que se fechar à pressa as portas das instalações antes que o ser do tamanho de uma mão fosse parar à rua.

Era para se chamar Amélia (seu nome oficial), mas nunca quis saber disso.

Com o tempo e o uso tornou-se “Gááta!!”, a sua verdadeira designação.

O tal plano da família feliz de dois humanos e quatro doces entes que miam também foi substituído pela realidade.

Os outros três anjos continuam a proteger-nos, mas agora lá de cima, ali no outro lado, onde são estrelas cintilantes depois de uma vida de amor e carinho dedicada aos seus tutores.

Dos humanos, no lar, resta um.

“Gáátaa!!” reagiu a tudo isso à sua maneira.

Este ser esguio e muito, muito ternurento encontrou a vocação adequada para a sua existência.

A Amélinha vive para observar, ouvir, estudar e acompanhar o seu humano, que sou eu.

Esse é que era o belo e saboroso rumo que estava traçado para ela.

A razão pela qual ela desceu à Terra, a 15 de Agosto de 2012, foi para me fazer feliz.

Gááta, nove anos é pouco tempo!

Olho para ti aí esticadinha, a espreguiçares-te e a bocejar sobre a ombreira do sofá.

Juntos viemos de Lisboa, de uma vida familiar, na década passada, com quatro gatos e duas pessoas, e chegámos aqui, à Margem Sul, nove anos depois, eu, humano, e tu, Gááta!!

São nove os anos que completas a 15 de Agosto de 2021.

Para nós, os dois sobreviventes, tudo mudou drasticamente.

Trabalha-se em casa, comemos, dormimos, acordamos, rimos e choramos juntos, todos os dias.

Eras uma felina sempre doente, tornaste-te um ser cem por cento saudável.

E poucos dias depois de ter regressado por menos de um mês ao escritório, tiveste um pequenino indício de recaída.

Felizmente para ti, já telé-trabalho de novo. Mas um dias destes vamos ter que arranjar maneira de te adaptares a ausências prolongadas, boneca, “munéca”, princesinha.

Neste tempos bizarros, também ficaste menos tímida… Pelo menos, quando aqui entram uma ou duas pessoas que sejam bem sossegadinhas e gostem muito de gatos e de mim.

Já dei contigo a um metro da namorada do meu grande e indescritível amigo L, uma meia hora, a piscar os olhinhos e a ronronar.

Ou a espreitar e inspeccionar a menina simpática e educadinha da Iberdrola.

Talvez estejas a sentir um pouco do que experimentam os humanos um pouco por todo o Planeta agora.

Ânsias por conviver um pouco mais, voltar a ter uma existência um pouquinho mais normal, Gááta!!

Amor sem limites

Os lençóis sofrem uma ligeira mexida às seis da manhã. O humano levanta-se a custo.

Amélinha permanece alguns segundos sobre o édredão, depois salta para o chão e fica sobre um dos tapetes predilectos, usado pelo tutor para pousar os pés no horário de trabalho.

É ali que ronrona, se estica, enrola e mia exigindo o miminho da manhã.

O seu daddy vai correr uma hora, regressa… Gáátaa, um dos seus principais nomes verdadeiros, voltou entretanto para a cama humana, aguardando o seu adorado companheiro e pedindo mais amor.

Depois, enquanto o semi-cinquentão vai comprar o seu jornal Público em papel e alimentar os felinos da rua, a bolinha de pêlos vai para cima da máquina de lavar, junto à janela, ver a manhã acontecer.

Hora de medicação matinal e pequeno-almoço. O “papá” vai dar mais uma volta, ler as notícias a olhar para o rio em introspecção.

A próxima etapa é a montagem diária de teclado, rato, monitor, computador, transformadores e electricidade. Se Gatíínha conseguir portar-se bem e não atacar o equipamento pode assistir, caso contrário fica a miar uns minutos na soalheira cozinha.

O dia de trabalho é passado com a varanda aberta porque o humano está na sala e a bolinha de pêlos cor de azeviche só lá vai com ele, caso contrário não se interessa por tais digressões.

A doce alminha felina passa a jornada nas pernas do humano ou na parte de cima do sofá, enquanto vai sonhando, bocejando e olhando para ele.

A hora da escovagem nocturna caracteriza-se por pequenas fugas, miados e ronronados, o humano vai pegando na fofinha, coloca-a na mesa, no topo do micro-ondas, apanha-a de novo no chão, posiciona-a outra vez a jeito, mais uma escovadela, mais um tufo de pêlo velho que sai, para proteger o estômago e a saúde dela.

O telefonema diário para a mãe é acompanhado por muitos pedidos de atenção felina bem audíveis e insistentes.

Se houver um rápido serão de sofá, claro que as patinhas pretas e o dorso de mesma coloração descansarão ao colo do seu mais que tudo.

A cereja em cima do bolo é mesmo ao adormecer. Gatíínha irá nos braços do dono, ronronando sem fim, ficará alguns minutos sobre o proeminente ventre dele, sempre entoando “rrrr rrr rrr rrr”. Adormecerá depois abraçada a ele, ou sobre as suas pernas.

E amanhã há mais amor sem limites.

Minha Gáta, Meu Amor

Entre Janeiro de 2020 e Janeiro de 2021 que aconteceu?

Perdi Jeremias, o meu gato-cão, meu filhote, carne da minha carne, companheiro, companhia, amigo e minha sombra…

Vim trabalhar para casa:

Dez meses de telé-trabalho parecem estar a dar à minha Gáta (Amélinha, oficialmente) o bem estar e a tranquilidade que não tinha há muitos anos.

Na sua consulta desta semana, os indicadores de saúde apareceram quase todos a mais de 100%.

Análises, apetite, peso, energia, boa disposição.

Parece que, com a pandemia e o seu humano sempre em casa, a Bonéquinha está a viver a sua Segunda Vida.

Agora até vamos os dois para a varanda… Cheia de curiosidade e assombrada pelo medo, ela decide ficar onde se sente sempre bem. Ao colo do seu humano.

Assim, goza os cheiros, sons, sensações e prazeres da rua, em perfeita e total segurança.

Estica-se e contorce-se para seguir os ruídos e os movimentos. Mas sempre sem sair das pernas do seu deliciado tutor.

Dorme na minha cama. E, com a temperatura mais baixa, já passa a noite inteira debaixo do édredão, abraçada e encostada a mim, a ronronar.

Era o que faziam os manos, o Jeremias e a terna e linda Matilde, quando ainda adoçavam o nosso Mundo.

Já o Chiquinho, o inesquecível gato preto que me deu sorte, só fez isso uma vez. Ele gostava mais de presidir a tudo, sobre as minhas mantas. Afinal, era mesmo O Meu Rei…

Ficámos nós, Gatinha. Eu e tu somos a soma de tudo o que vivemos os cinco no passado.

De todo o amor, de todo o prazer, de todo o carinho, de toda a felicidade.

Felina que me guia e deleita todos os dias, Gáta, tens que existir mais uns cem anos.

Eu cá estou, para que esses cem anos te sejam seguros, felizes, amáveis e bem prazenteiros, minha Gata, meu amor!

A Gata

Ausente deste mundo há um mês, o Jeremias — e a mana Matildinha, que partiu antes –, ensinaram-me a gostar desses seres que miam, ronronam e tornam a existência dos humanos mais suave e agradável.

Os manos tigres abriram o caminho para o Chiquinho, o Gato Preto que me deu sorte e foi o amor felino da minha vida, até há dois anos.

Esses três adultos sábios, empáticos e filosóficos eram os protectores da Amélinha, A Gata, Boneca, Bonequinha ou Munéca, as suas várias encarnações.

Desde há um mês, A Gata é a minha vida e eu sou o mundo d’A Gata.

A Doutora dos Gatos, a divina Dra. Helena Viana, explicou que “os gatos são estranhos, e há gatos que não se importam de ser gato único”. É isso que se passa.

Estando eu pandemicamente a telé-trabalhar, A Gata tem agora o seu humano com ela, dia e noite, 24 horas por dia, sete dias por semana.

Durante o turno de trabalho, fica permanentemente ao meu colo.

À noite, porque ama dormir comigo mas é um pouco distraída e por vezes se esquece, vou sempre buscá-la, da sala para o quarto.

Ronrona sonoramente durante muito tempo; fica em contacto com a minha pele alguns minutos; depois, embora tenha do lado direito diversas mantas polares à escolha, e as adore, prefere ficar por cima do édredão… E do seu humano.

Descansa durante sete horas sobre mim, sem se mexer. Tem oitos anos mas só pesa três quilos. Às vezes nem sei bem se está ali ou não, de tão leve que é.

Levanto-me e reiniciamos a nossa doce e terna saga.

Durante o telefonema diário para o meu pai e a minha mãe, passa o tempo a fazer disparates pela casa e a miar insistentemente para mim e o telefone.

A minha mãe diz que ela está “a cumprimentar a avó”.

É uma existência de miminhos, festinhas, miados, a ronronar sem fim. E fazemos por aproveitar cada hora, cada minuto e cada segundo.

Corre agora nos prados do paraíso

Ensinou-me a gostar de gatos, a amar e respeitar os felinos. Jeremias e a mana, a Matildinha, fizeram de mim, na verdade, o Vasco que sou hoje.

A primeira vez que me viu, o que Jeremias queria era festa, miminhos, animação e alegria. Foi assim toda a vida dele.

Jeremias era um bom bocado mais gato que cão. Era a minha sombra.

Se fosse 300 vezes à casa de banho, 299 delas teria Jeremias a rebolar pelo tapete, a esfregar-se, a pedir dedicação. Foi assim desde que o conheci, numa outra década. Foi assim até ao fim.

Jeremias tinha 14 anos, insuficiência renal profunda e prolongada, problemas de ossos, de estômago, de apetite…

Esta semana, antecipei dois dias a consulta semanal com a Doutora dos Gatos, a Dra. Helena Viana, em Lisboa. O apetite e o ânimo escasseavam já demasiado.

Três horas depois daquela movimentação e daqueles telefonemas todos para a remarcação da visita à clínica, o estado de Jeremias evoluiu vertiginosamente.

A energia, força e agilidade desapareceram muito rapidamente. Depois, o resto da fome também.

O fígado, os rins e o pâncreas sucumbiram, e sofreu uma infecção. Na clínica, continuou a piorar.

Respondi à Dra. Helena: “Não há mais nada a fazer, não é? Vamos acabar com o sofrimento do nosso tigre”. Ela: “Sim, em razão. Fizemos tudo o que era possível, mas não somos Deus, não somos donos da verdade. Vamos deixar o menino partir”.

Fiquei com ele até ao fim. Até o coraçãozinho deixar de bater.

Na última noite, antes de irmos à clínica, fui buscá-lo, levei-o para a minha cama e abracei-me a ele. Ficou tão feliz. Ronronou sem parar até a madrugada chegar.

Jeremias, corre agora pelos prados do paraíso, com o Chiquinho, a Matilde e a Lassie.

Obrigado, Jeremias, meu amor. Dá os meus beijinhos ao Chiquinho e à Matildinha. Obrigado, meu lindo e louco lince-gato-cão <3

A amiga secreta do Jeremias e da Amélinha

O meu ronronante tigrinho Jeremias andava com um apetite voraz.

Devo ter exagerado um pouco na quantidade de ração.

O pedaço que sobrou era visível, não seria coisa que se deitasse fora, mas também não ia ficar no prato até de manhã, já que perderia o interesse para ele.

Eram duas da manhã, fim de turno.

O destino era óbvio.

Ao descer as escadas, o silêncio era total.

À porta do prédio, a princesinha, gatinha já familiar e amiga há um ano e meio.

Se lhe ia pôr a comida no abrigo, os amiguitos, muitos mais afoitos e expeditos, passar-lhe-iam à frente.

Sossego, ninguém à volta.

Rasgo e abro o envelope de papel com a ração, coloco no chão como uma pequena folha aberta.

Mesmo a um metro de mim, atira-se à pequena refeição.

O vento revira a folha, recua, assusta-se, endireito o papel. Duas ou três vezes.

Perco a paciência, ponho as chaves de casa em cima do envelope, recuo dois passos.

A fofinha come tudo rapidamente, apanha todos os grãos à frente, atrás, por cima, por baixo, dos lados.

Aguardo um bocadinho.

Apanho as chaves, recolho a folha, deito no lixo.

Esta noite a minha amiga teve menos fome.

Um felino fenomenal

Era apenas um visitante da casa.

Quando chegava, acolhia-me com o traço central da sua personalidade.

O entusiasmo, a boa disposição, a vontade de dar e receber carinho.

As deslocações a tal domicílio tornaram-se mais frequentes e prolongadas.

O Jeremias mal sabia que, muitos anos depois, o amigo-visitante-residente havia de vir a tornar-se o seu humano número 1, embora a sua mamã o visite ávida e apaixonadamente sempre que se desloca a Portugal, e se adorem um ao outro como no primeiro dia.

A vida de todas as jornadas, noites, horas e minutos, o magnífico tigre que mia passou a partilhá-la comigo e com a sua discípula, a “Gááta!!”.

E, por uns anos, com dois anjos que agora já voltaram ao céu, o Meu Chiquinho e a doce Matildinha.

Jeremias é um gato enérgico e automático.

99,9% das vezes que me desloco da cadeira, da secretária de trabalho, do sofá, da cama, e, em especial, para a casa de banho, tenho instantaneamente o meu felino ao meu lado, a espalhar-se pelo tapete, a ronronar e a pedir atenção. Teleporta-se.

Estando sentado ou deitado no sofá ou na cama, este irresistível “fora-da-lei” estará sempre aconchegado sobre mim, a aquecer-me e mimar-me.

O meu belo lincezinho, além de ser o mais companheiro dos animais de companhia, tem um papel único na minha vida.

Foi o primeiro patudo que conheci de perto, e que, junto com a sua irmã Matilde, me recebeu como se fizesse parte da existência dele desde todo o sempre.

Escreveu empenhadamente a primeira página da minha história de amor com ele, Jeremias, com a meiga Matildinha, com o profundamente amado Chiquinho e com a “Gááta!!”, esse pedacinho (o melhor bocado) de mim.

E desde que nasceu, em Outubro de 2006, já passaram 14 anos.

Jeremias, meu amor, mais uma volta ao Sol! Obrigado, lindo.