29 277, leio no contador. Anoto o valor e dirijo-me à companhia das águas, a dez minutos, para alterar a titularidade do contrato para o meu nome, com os impressos e documentos necessários.
Uma mulher vende pequenas camisolas de bebé, de malha, num banco de jardim, enquanto preencho os formulários – excepto as partes que não percebo.
Entro na companhia, entrego os impressos e a caderneta predial.
Chegamos à parte da leitura do contador. “Não, isto não é possivel. Não é possível que alguém tenha gasto 900 metros cúbicos de água em dez dias, nem com uma inundação. Não é possível. Não lhe posso aceitar isto assim”.
“Bom, eu posso voltar lá e tentar ver o que fiz mal… Dez minutos”.
“Tudo bem, eu espero por si, depois não precisa de tirar senha”.
Fico a olhar para o armário do contador. Anotei bem, ainda não estou completamente louco. Continuo a olhar. Um contador ao lado de outro. Um de um andar, um de outro… Mas também há um armário com dois contadores, em baixo. Um de um andar, um de outro.
Olho com cuidado e atenção. Os contadores de cima são os da luz. Os de baixo os da água. A leitura é 203 675. Confirmo várias vezes. Regresso.
Verifica-me tudo, fotocopia a caderneta predial, o cartão do cidadão caducado. Estou mesmo a ver que, no fim de guardar as cópias e me dar os originais todos, o diligente e amável funcionário ainda vai acabar por esquecer-se de me pedir a leitura.
Por mera maldade, espero e não digo nada, a ver se ele se descose. Ao fim de um ou dois minutos, depois de registar e oficializar o processo, pergunta-me: “Então, nesse caso, qual é a leitura”?
No meio de tudo, apenas repus os níveis de açúcar gastos na corrida das seis da manhã com uns escassos Dokyos achocolatados, de pacote. Nem uma mísera Bolinha de Berlim, nem sequer um Palmier…