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Vi um saco a andar pela casa

Acordaste enrolada aos meus pés. Agarrei em ti. Peguei-te ao colo, dei-te muitos beijinhos, disse-te que és a minha fofinha, o meu bebé, o meu amor. Olhaste para mim com um ar feliz, amoroso, tranquilo, como fazes quando estás nos meus braços.

Fazes quatro anos hoje, Amélinha. Nunca vou esquecer os quatro episódios em que fiquei sem saber o que ia acontecer-te e o que devia fazer. O primeiro… Num belo dia, pouco depois de alguém comprar ou oferecer alguma coisa, vi um saco a andar sozinho pela casa.

Fui mexer no saco, e eras tu. Com o teu pescocinho preso nas asas, porque adoravas sacos, cordéis e asas, e já com dificuldades em respirar. Gritei pela minha gentil esposa, com quem ainda vivia na altura, mas entretanto o sentido prático sobrepôs-se ao pânico absoluto que me dominava.

Retirei os cordéis, afastei o saco, libertei o teu pescocinho lindo e delgado, que asfixiava.

Segundo episódio, ainda na primeira residência onde moraste. Alguém entrou em casa, e, passados uns segundos, começo à procura da minha pequenina.

Bem podia procurar, e assim fiz. Na sala, na cozinha, no quarto, na casa de banho, em todo o lado e mais algum. Na escada, em todos os andares, nada. Acabei por ir às traseiras do prédio. Lá estavas tu, na rua, à porta, com um ar puramente beatífico. “Estou aqui, leva-me, vamos”.

Terceiro episódio. Fui ao quarto onde costumava guardar as coisas que não estão sempre a ser usadas, e tu, sempre atrás de mim, sempre a enfiar o teu minúsculo ser pelas portas.

De repente ouço um gemido terrível. Meteste as unhinhas por debaixo da porta, sua doidinha. E ainda eras tão pequenina. A dor só durou um momento, felizmente.

Quarto episódio. Fui correr uma hora, como habitualmente, de manhã. Quando voltei tinhas destruído e engolido os comprimidos anti-insuficiência renal do Jeremias. Passaste o dia na clínica, a soro. Por precaução. A nossa doutora explicou-me depois que os comprimidos não te fizeram mal, mas podias ter ido muito facilmente desta para a melhor.

Neste momento estou no sofá a escrever quase só com uma mão, porque tu, meu amor, queres estar sempre ao pé de mim, em cima de mim, em mim, a dar-me o teu carinho, a tua dedicação incondicional e absoluta, a fazer-me festinhas, a olhar para mim, enquanto fazes aquele som que exprime a tua felicidade total.

É por isso que não me preocupo: Sei que tu sabes o que eu sinto por ti, se é que é possível perceber. Sei que o que tu sentes por mim é exactamente igual. Parabéns, Amélinha. Parabéns, Gááta, o teu verdadeiro nome.

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