Lisboa, Cais do Sodré. Os anos do meu querido e grande amigo, um herói da selva urbana que conquista tudo o que tem a pulso e na ponta do arame.
Local: O mais divertido e imprevisível bar de Lisboa, onde profissionais da noite, polícias, mulheres cinquentonas e homens de cabelo grisalho que gostam de beber um copo se cruzam com camones adolescentes, asiáticas de 18 anos, apreciadores de shots e pessoal que adora a discoteca Jamaica mas aqui paga dez vezes menos.
Pomos toda a conversa em dia, conto as aventuras dos últimos meses e escuto os triunfos quotidianos que ele e a sua companheira atingiram recentemente.
No dia seguinte, um encontro nocturno com outro casal igualmente próximo. Que, como alguns dos meus mais chegados, tem paciência para inventar grandes iguarias vegan a pensar nas minhas visitas.
Têm uma filha e dois gatos. A pretinha parece uma cópia da minha Amélinha, a “Gááta!!”. Embora seja muito mais gordinha e menos comprida, os comportamentos de ambas fazem delas gémeas.
Esta amiguinha que vejo de vez em quando mia para mim, chama-me docemente, ronrona-me, fica feliz com a minha presença e pede-me festinhas e miminhos. Dá gritinhos amorosos. Como a minha panterinha. Parece quase que estas duas negritas de seis anos partilham a mesma personalidade.
12 horas depois o almoço com os meus pais: Comer e beber que nem um abade vegetariano e guloso e saber tudo o que se passou ultimamente com a família. Sou mimado durante todo o dia, como sempre acontece nestas deslocações à margem sul.
No final da jornada regresso a casa, arrumo as oferendas semanais e estico-me no sofá. Leio o jornal, espreito as parvoíces que acontecem dentro do telemóvel e vejo uns três ou quatro filmes.
Um do Corto Maltese, bastante relaxante e sem pés nem cabeça; um western dos tempos modernos, ainda mais absurdo; e, pela quinta vez, uma película com George Clooney que fala de vida, morte, eutanásia e de um marido traído que vai anunciar o falecimento da esposa à família e a toda a gente – incluindo o amante cuja existência ele desconhecia.
Durante estas lânguidas horas dominicais o Jeremias fica sempre a escassos centímetros de mim. A “Gááta!!” em cima dos meus tornozelos. E a Matildinha, finalmente, faz o que já não acontecia havia dois meses. Vem para a sala, enrola-se, enrosca-se e abraça-se a mim.
Momentos de pura felicidade e leveza espiritual. Mais tarde, ao deitar-me, o meu pequeno tigre doméstico e a Amélinha voltam às suas posições naturais, em cima dos meus pés, da barriga das minhas pernas, das minhas costas e do meu rabo.
A Matildinha permanece do meu lado direito, discretamente, para não a chatearem.
De manhã, estas companhias felpudas e carinhosas sabem-me tão bem, e estou tão cansado do fim-de-semana, que só me levanto já em cima da hora.
Mas ainda consigo ir para o trabalho a pé, junto às águas murmurejantes, e ler uma ou duas notícias a olhar para o Tejo, antes de iniciar a minha actividade laboral.
Eu disse que hoje estava com a neura? Hm… Devo ter-me enganado!