47 anos. Não sinto o peso da idade. Trabalhei 31 anos como jornalista, estive um ano e meio desempregado e agora encontro-me num call center.
Numa empresa com um ambiente multinacional e multi-cultural onde todos se vestem, penteiam e agem mais ou menos como se estivessem em casa.
Tenho colegas simpáticos e prestáveis, chefes que nos ajudam a lidar com as situações e uma líder de equipa que faz tudo, mas mesmo tudo para que consigamos satisfazer os nossos utilizadores e sentir-nos bem na nossa pele.
Tenho os melhores pais do mundo e os gatos mais ternos e carinhosos que se pode imaginar.
Levanto-me, dou a alimentação e os medicamentos aos pequenotes e vou para a minha corrida diária de uma hora.
Caminho meia hora junto ao rio, entre camones e lisboetas. Leio as notícias do dia e vou ouvir os membros da comunidade, que contam connosco para perceber os nossos serviços e tirarem deles o maior benefício possível.
Chego a casa e deparo-me com os meus companheiros ronronantes. Esperam o jantar, a medicação e muito, muito mimo para compensar a ausência do seu humano durante o dia.
Algum tempo depois, vêm enroscar-se a mim, procurando o calor do meu corpo e fazendo aqueles sons felinos que servem de canção de embalar, proporcionando tranquilidade e bem estar até de manhã. Após umas sete horas, começa tudo de novo.
E quem se pode queixar? Só temos que agradecer a sorte que temos.