“Boa tarde, Vasco Ventura. O seu currículo fez com que ficássemos com vontade de o conhecer. O que temos para si é isto e isto. Se continuar interessado, apareça no dia tal entre as horas tantas e as tantas”.
No dia tal às horas tantas (um bom bocado antes, para fazer o reconhecimento do terreno), lá estou à porta. Acabo por ir para o café fazer tempo, ainda falta bastante. Peço um chá preto, que se derrama involuntariamente nas calças de tecido escuro, mas não na camisa azul, no blusão de Inverno ou nos sapatos pretos. Limpo com uns trinta guardanapos de papel e espero que seque.
Na televisão sem som passa uma noticia absurda, mas verdadeira, que me desperta algum interesse. Bebo o que resta do chá e aguardo.
Ainda chego um bom bocado antes da hora, mas não sou o único. O processo de recrutamento acaba por começar, também ele, bem antes do tempo. Entro numa sala com 20 e tal candidatos, todos jovens. Um homem simpático, discreto, de aparência ligeiramente tímida, distribui formulários e indica o que está escrito a marcador verde num quadro branco, bem ao fundo da sala.
Há que preencher o formulário-currículo e escrever uma notícia em português e inglês, em 50 palavras, sem necessidade de título. Faço o título na mesma. Não existem notícias sem título. Estico-me um pouco e acabo por riscar algumas frases para não exceder muito o limite. A versão em inglês fica mais curta. Escolho a notícia absurda mas verdadeira que tinha visto na televisão sem som uma hora antes.
Segue-se a conversa-entrevista de emprego. Porque estou aqui, o que espero encontrar, o que tenho para oferecer. O interlocutor é amável, assertivo, respeitoso. Na primeira fase eram 200 candidatos, nesta segunda são cem para cinco vagas. “Tem disponibilidade imediata? Até à data tal já lhe devo dizer alguma coisa. Todas as pessoas têm direito a obter uma resposta”.