No dia em que me conheceste, saltaste para o meu colo. Não era coisa que fizesses a desconhecidos. Alguém disse que eu devia ser muito boa pessoa.
O meu destino cruzou-se com o da tua dona, nessa época. Quatro anos depois, após o divórcio, ela teve que ir viver para Londres e deixou-te comigo, que já era o teu “humano número dois”, porque a viagem seria demais para a tua saúde e a tua idade.
Foste a minha filhota doce, meiga, querida, amiga, sensível, boa e carinhosa durante os anos seguintes.
Os teus três “manos” perseguiram-te e chatearam-te durante toda a vida, por seres tão vulnerável.
Depois da primeira operação que fizeste, e das seguintes, sentiste o meu amor e protecção de uma forma muito profunda e intensa. Devolveste em decuplicado com os teus miminhos e a tua dedicação.
Dormias enrolada a mim todas as noites, feliz e segura. Sentia as tuas patinhas agarradas a mim, ouvia as tuas mastigadelas discretas, uma melodia inspiradora que me adormecia.
Seguias-me pela casa, miavas para mim, ronronavas insistentemente para o teu papá quando acontecia ficarmos sozinhos por momentos.
Tiveste uma existência complicada por causa dos teus companheiros felinos, mas os diálogos que tínhamos, o amor que dávamos um ao outro, a doçura que circulava de mim para ti e retribuías ampliada pelo anjo que eras, essas ficam. Ficarão até ao fim dos tempos, meu amor.
A tua saúde instável foi afectada pelo stress da preparação das mudanças, apesar de todas as medidas de prevenção, dando conta do teu coração e dos pulmões.
Foi tudo terrivelmente rápido. Partiste na clínica, à minha frente.
Fiquei ainda a beijar-te e afagar-te, minha querida e linda Matilde. Mas já não estavas cá. Até sempre, meu amor, a gata mais doce, meiga, carinhosa e sensível que alguém poderia conhecer.