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“Ah, ele agora vai ter que andar com um lenço na cabeça!”

Torra-se totalmente ao sol no Largo da estação, a seis de Janeiro.

Na mesa do lado sentam-se uma mulher negra e bela de idade totalmente indefinida e um homem, sexagenário.

Guardam gentilmente o casaco e a literatura portátil enquanto vou, mais demoradamente do que desejava, buscar um café lá dentro.

Mensagens para aqui, palavras cruzadas para ali, o jornal parece quase abandonado em cima da mesa.

A simpática senhora pergunta, para o seu par, se é possível emprestar o periódico, “para ele não adormecer”.

Apostado em ler as notícias do dia, proponho a edição do dia anterior:

“É um bom jornal, penso que mesmo assim poderá gostar”.

Agradecem, e o leitor fica a folhear as informações durante mais de meia hora com interesse.

Começo a ouvir os comentários da hipotética esposa.

“Ele (o Ronaldo) vai ter que passar a andar com um lenço na cabeça! Ele ainda é muito novo. Há muitos que jogam até aos 40”.

“E ela também vai ter que andar com lenço na cabeça, senão não a deixam entrar nos sítios! Eles são muçulmanos. Eu sei que é assim, porque o meu pai também é muçulmano”.

Trocamos algumas palavras, tantas quantas quis. Umas sobre o futebol, outras sobre o sol. Rimos. O casal é bem disposto e amável.

Meia hora mais tarde, o homem, satisfeito, devolve o jornal atrasado.

Trocamos alguns sorrisos e saudações de ano novo. Durante mais uns quantos dias é perfeitamente legítimo desejar às outras pessoas bom ano.

Termina uma manhã quente, calorosa e simpática.

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