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O meu primeiro Avante!

O meu pai e o senhor Luís eram amigos daqueles que dariam a camisa, as calças, o prato e o que mais fosse preciso um pelo outro.

Eu era miúdo, e os filhos dele mais ainda. Mas uns jovens que sempre tiveram muita cabeça, além de serem maravilhosos, como os pais.

O senhor Luís, que naqueles longínquos anos 80 e até sempre foi um seguidor leal do partido de Cunhal, levou o grande companheiro e a família a visitar a Festa do Avante, já então na Quinta da Atalaia.

Já está tudo muito difuso na cabeça, mas foi o meu primeiro contacto com o grande evento anual do PCP.

Entre os dez anos e os 50, que me lembre cheguei a ser crente religioso, votante do partido comunista, bloquista, socialista, eleitor do PAN. Acabei socialista democrático, ou social-democrata sem partido: Defensor de uma sociedade democrática e de uma versão corrigida do capitalismo, com um Estado interventivo, regulador e dedicado a eliminar as injustiças sociais e económicas.

A verdade é que, anos mais tarde, com os filhos do Luís e com mais umas dezenas de amigos, também descendentes de alentejanos e que igualmente passavam férias na Costa Vicentina, passei a frequentar a festa comunista anualmente.

Ali nos consumíamos em convívios, conversas, jantaradas, copos. Ali comprávamos T-shirts de todo o Mundo, contactávamos com um pedaço da cultura de muitos países, viámos os concertos das bandas de que mais gostávamos ou de que nunca tinhamos ouvido falar.

Faziamos habitualmente os 10 a 15 quilómetros da Corrida do Avante, sempre de ressaca, e nessa época não costumávamos treinar, ou correr mais de uma vez por ano, e nem me passava pela cabeça o que eram ténis de running. Mas fazia-se, com a alegria da diversão e a força do companheirismo.

Festejávamos. Aqueles três dias eram como uma semana de férias. Ficávamos mais profundamente irmãos e deitávamos tudo cá para fora.

Dormíamos em casa da D. Lurdes, que sempre nos tratou a todos, família, amigos e amigos dos amigos, como príncipes, sultões e Presidentes.

De tronco nu, apanhávamos escaldões com a intensidade do Sol de Setembro. Havia os namoricos que aconteciam no meio de toda aquela animação e loucura.

Podiam durar horas, meses ou eventualmente mais.

Vivia-se a Revolução e a Libertação de Sexta a Domingo. Tenho saudades!

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