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“Qualquer dia mato alguém”

“Qualquer dia ainda mato alguém. Estou farto de pedir ajuda e não serve de nada. Tenho um problema com a branca.

Pensava que conseguia controlar, mas não. Tenho grandes picos de ansiedade. Estou muito nervoso. Não me posso afastar muito daqui para pedir ajuda.

Já me vieram mexer nas coisas, e mijar em cima dos meus pertences. Aqui onde estou vi várias vezes prostituição a céu aberto, com mulheres ou homens, vi acampamentos de ciganos, e ninguém os chateou. Mas a mim não me deixam em paz.

Estive preso, já cometi uma agressão. Mas quero ir falar com a funcionária que agredi, quero ser eu a explicar-lhe pelas minhas palavras como tudo aconteceu.

Chamo-me X, tenho Y anos, costumo estar aqui neste sítio. Podem vir aqui ter comigo. Ajudem-me, preciso mesmo de ajuda”.

A situação é rapidamente reportada, para que as experientes estruturas de reinserção da Comunidade Vida e Paz (CVP) possam apoiar este homem perdido e desesperado.

Logo a seguir a equipa dá de caras com A… E não é que uma das voluntárias conseguiu mesmo arranjar um bom e funcional aspirador, sem saco, para que ele possa limpar irrepreensivelmente o quarto que obteve graças aos seus esforços e com a ajuda de instituições de solidariedade?

A rapariga abre e fecha o electrodoméstico, mostra-lhe todas as funcionalidades, o modo de usá-lo e explica-lhe que já mudou os filtros, com os quais não terá que se preocupar durante mais de um ano. O homem brinca connosco e ri de felicidade.

Mais tarde encontramos o pequeno habitáculo de cartão de G, que não está. Nem ele nem N, a sua cadelinha irresistível.

Mas vemos sapatos e pantufas de bebé, e vários brinquedos. Sinais evidentes da presença de outras pessoas: Uma família com bebé. Um dos voluntários fica particularmente chocado com a situação.

A CVP é informada segundos depois. As dezenas de equipas de voluntários da instituição são instadas a manter-se totalmente alerta em relação a este caso, para que possa intervir-se com toda a celeridade possível e trazer ao terreno as entidades competentes. Ou seja, a Segurança Social.

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