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Lisboetas despejados de Lisboa

Nos bairros tradicionais de Lisboa, as pessoas andam chateadas. Na Mouraria, na Madragoa, em Alfama, no Bairro Alto. Dizem que nas casas destes bairros já quase não há portugueses, e que as antigas mercearias locais foram todas substituídas por lojas indianas, paquistanesas, do Bangladesh, asiáticas em geral.

O facto de os lisboetas idosos e pobres estarem a ser escorraçados de Lisboa pelo alojamento local e pela febre louca e ávida de ganhar muito dinheiro muito depressa com o turismo, podem agradecê-lo ao governo de Passos Coelho, Paulo Portas e Assunção Cristas e à sua lei do arrendamento, que permitiu aos senhorios correr com os seus inquilinos, centuplicar-lhes as rendas e vender tudo para construir hotéis ou hostels para turistas.

Podem agradecê-lo também à nossa condição, a Portugalidade. Do Algarve ao Porto, e com o centro nevrálgico de tudo em Lisboa, os políticos, autarcas, empresários e cidadãos portugueses querem ganhar muitos milhões em poucos dias, chupando todo o dinheiro possível aos turistas.

Os portugueses que não precisam dela estão-se nas tintas para a habitação social, como se estão nas tintas para os monumentos, o património cultural, arquitectónico e paisagístico e o ambiente.

Querem que tudo continue a ser deitado abaixo em Lisboa, no Porto e no país, para que possam construir-se ainda mais e mais hotéis, hostels, restaurantes e prédios de alojamento local.

Não lhes causa estranheza nenhuma pensar que Portugal vai deixar de ser dos portugueses e que brevemente os turistas desembarcarão em Lisboa para ver turistas e para visitar hotéis e restaurantes.

Este é o lado da desportugalização que podemos agradecer a nós mesmos.

Quanto ao facto de as lojas indianas terem crescido como cogumelos ao mesmo tempo que as mercearias de bairro se extinguiam, não podemos culpar ninguém. Muito menos os indianos, paquistaneses ou habitantes do Bangladesh, que, no seu país, apenas conheceriam a miséria, a doença e a fome.

Digamos que a extinção das mercearias e a proliferação das lojas indianas é culpa… da realidade.

Mas para a febre de cilindrar o país, a sua cultura e os seus habitantes em nome da obsessão de enriquecer com o turismo, para essa, o que não falta são culpados.

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