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Pela boca morre o doce

Dizem-me, a propósito de me ter tornado vegan, recusando todos os alimentos de origem animal, que só fiz isso porque nunca me passou pela boca uma carne barrosã, uma morcela portuguesa ou uma farinheira típica alentejana.

Nada podia ser menos verdade. A minha resposta é que, em termos alimentares, por esta boca passou tudo, ou quase.

Já não era um consumidor muito ávido de carne, mas adorava peixe, enchidos, todos os queijos do Planeta e todo e qualquer bolo, o que, normalmente, implicaria consumir grandes quantidades de ovos e ou leite.

Afirmam-me que, antes, comia muito e muito bem, e era o convidado preferido de todas as cozinheiras que confeccionavam por prazer. Argumentos que pouco ou nada têm a ver com a escolha entre ser vegan ou consumidor de produtos de origem animal.

Por várias razões. Se havia muitos alimentos não vegan que adorava, é fácil de encontrar um produto que eu venerava. Chocolate.

99 por cento dos chocolates existentes em todas as lojas, incluindo estabelecimentos biológicos, macrobióticos e afins – e incluindo chocolate preto! – têm na sua composição leite ou vestígios de leite. O que fez com que nunca mais consumisse sequer um único quadrado de chocolate.

Se antes, ao almoço, jantar, lanche e pequeno-almoço comia “muito e muito bem”, como me dizem, agora, mais do que nunca, como muito e muito bem.

Pão integral, ou com múltiplos cereais, fruta, sumos de fruta, frutos secos, arroz, esparguete, couscous, batata doce, salada, todos os vegetais conhecidos pela Humanidade, as dez ou 15 leguminosas que podem ser usadas na cozinha, cogumelos frescos de todos os géneros, cereais, barras de cereais, hambúrgueres vegan, sobremesas vegan…

Não deixei de gostar de comer nem de gostar de comer muito e bem. Passei a comer outras coisas, não menos deliciosas que a carne, o peixe ou as guloseimas, doces, bolos e sobremesas que levam ovos, leite ou mel.

Abandonei o alimento que mais venerava à face da Terra, chocolate, substituindo-o por bolos de alfarroba, sorvetes, sobremesas de caju ou de outros frutos secos.

Não deixei os prazeres da alimentação, intensifiquei-os. Mas a questão não é essa.

Embora tenha perdido mais de meia dúzia de quilos em nove meses, o que me move também não é isso. Não foi por razões de dieta, paladar ou saúde que abandonei a carne e os produtos de origem animal.

Foi porque não quero comer animais, seres sensíveis e conscientes, nem produtos que lhes sejam retirados à força e com sofrimento vitalício, que é o que acontece na indústria alimentar. É tão somente isso.

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