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Setenta e três quilos e seiscentos

Fui um iô-iô humano durante décadas. Quando tinha 15 anos, dizia que podia comer o que quisesse e nunca engordaria. Meia dúzia de anos depois percebi que isso estava muito longe de ser verdade.

Ao longo da vida, ia fazendo mudanças mais ou menos graduais na alimentação, para conseguir voltar a atingir um peso aceitável.

Há uma década, era um bonequinho disforme e arredondado da Michelin, em cima de um camelo que percorria  o deserto em Marrocos, cheio de pena do bicho e a achar que ia morrer desidratado e para mim já estava tudo acabado.

Comecei a correr, a fazer mini-maratonas, meias maratonas e maratonas, de estrada e de montanha. O peso melhorou, e a saúde também.

Mas havia sempre os descuidos, uma ou duas ou três ou quatro vezes por semana, as guloseimas, doces, sobremesas, bolos, molhos, pratos com comida a mais e por aí fora.

E havia as épocas em que, por alguma razão, começava a vingar-me à mesa e lá descambava tudo.

Em Outubro, tornei-me vegan. Deixei de comer carne, peixe, ovos, leite, queijo, iogurtes, manteiga e mel. Decidi não comer mais cadáveres, nem coisas que fossem feitas a partir de cadáveres ou da exploração, abuso, tortura e massacre de animais comprovadamente e cientificamene sencientes: Sensíveis e conscientes.

Sem que estivesse à espera, isso parece ter gerado um efeito secundário. Pela primeira vez em anos, estou a perder peso, e, aparentemente, massa gorda, de uma forma consequente e consistente.

Devo ter menos uns sete quilos do que tinha há um ano. Nos últimos meses tenho perdido mensalmente um quilo, ou mesmo dois. Peso, hoje, 73 quilos e seiscentos gramas, algo que não acontecia desde os mais antigos dos tempos.

Não foi por isso que me tornei vegan.

Há quem prefira manter-se carnívoro para poder gozar de uma maior liberdade, para poder comer aquilo que lhe apetece.

As pessoas que são vegan não são menos livres do que os carnívoros. Têm, no mínimo, a mesma liberdade que os carnívoros.

Quando decidi deixar de comer carne, peixe, ovos, mel, leite e todos os seus derivados, essa foi uma decisão totalmente e absolutamente livre. Decidi, livremente e conscientemente, que não quero comer animais nem produtos retirados de animais. Esse é, na minha opinião, um acto de extrema e absoluta liberdade.

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