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O meu pilar nesta breve passagem

Sentada no sofá, ouvia, sem dizer uma palavra. “Sabes, aconteceu uma coisa. Se calhar ainda vais ser avó, assim de repente”.

Tinha 19 anos, a vida inteira e planos ambiciosos à minha frente. A minha mãe escutou silenciosamente, olhos semicerrados, até eu acabar. Nem uma crítica, nem uma censura, nem uma palavra mais dura. Sabia que já me bastava o pânico em que eu estava. “Não te preocupes, tudo se há-de resolver, encontramos uma solução. Estamos aqui para o que acontecer”. Acabou por ser falso alarme, mas aquele dia será recordado para sempre.

Com a minha mãe sempre foi assim. Bebeste uns copos a mais na festa do final do secundário, chegaste a casa aos pedaços e num carrinho de mão? Tudo bem, não vou abrir a boca durante um dia inteiro porque essas coisas me deixam doente de preocupação, mas… O problema é teu, não vou andar atrás de ti a dizer-te o que podes ou não fazer, já és maior de idade.

Fomos educados para a liberdade e para a responsabilidade. Somos livres mas responsáveis pelos nossos actos. A minha mãe, e o meu pai, estão sempre presentes para nos apoiar em tudo, mas nunca tomaram as decisões da nossa vida por nós, nunca impuseram nenhum caminho.

Vinte anos depois, continua a ser assim, mas ainda melhor! Sempre que vou lá a casa, eu e a minha mãe tentamos convencer o meu pai a alinhar no nosso programa preferido, passear junto ao mar. Quando não conseguimos, escapamo-nos só os dois. E temos aquelas conversas que eu e ela não conseguimos ter com mais ninguém, em que falamos de tudo, desde sempre. No regresso, a minha mãe quer invariavelmente saber se me apetece um lanchinho, um dos nossos doces favoritos, nalgum lugar de perdição calórica por onde passemos.

Quando me vou embora, depois de me encher de comida para vários dias e me perguntar várias vezes se estou bem, a minha mãe tenta ainda descobrir se está tudo a correr agradável e positivamente na minha vida, se preciso de mais alguma coisa, se me falta algo… É a minha mãe!

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