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A estrada dançava de um lado para o outro

Dançava de um lado ao outro, aos ziguezagues, da esquerda para a direita e ao contrário, rápida e imprevisivelmente. Era estranho que a estrada fizesse aquilo, não se percebia, não havia razão. Tentei durante intermináveis momentos fazer com que a estrada e o automóvel coincidissem no mesmo percurso, deslizando os dois de forma coerente e harmoniosa. Não o consegui por muito tempo.

 

No fim, via e veículo acabaram por encontrar-se, de forma violenta e pouco agradável. O carro parou em claro e inconciliável diferendo com o separador central. Saí de lá de dentro e reparei, distraidamente, que a parte da frente parecia totalmente destruída. Com automobilistas a acelerar à minha direita e à minha esquerda, peguei com aparente tranquilidade no pára-choques em bastante mau estado e totalmente separado do meu Clio. Demorei algum tempo a colocá-lo no interior, no banco de trás, já que não coube no porta-bagagens.

 

Completada a tarefa, dirigi-me, com alguma irritação, para o meu local de trabalho. Era dia de reuniões externas, o meu director demorou algumas horas a chegar. “Chefe, tenho um problema. Tive um acidente. Tenho que me ir embora para resolver as coisas do carro”. Sem dar muito tempo para réplicas, fui.

 

Peguei no meu azuleco, que há alguns anos me transporta para todo o lado, fui até à margem sul. A minha mãe estranhou ver-me de visita, num dia de semana, nem era momento de folga nem nada do género. O meu pai não estava, liguei a dizer que havia um problemazito com o meu carro, para ele ouvir a minha voz, não fosse chegar a casa, reparar na viatura assim e não me ver a mim.

 

O meu pai tomou o assunto em mãos e braços… Mudou-me o pneu, que rebentara, para conseguirmos ir até à oficina de confiança. E lá fomos. Rapidamente se percebeu que uma boa parte da secção frontal tinha que ser substituída. 100 euros esta peça, 500 aquela, 300 a outra, e por aí fora.

 

Todas as histórias têm uma moral, não há excepção. Em dias de chuva muito intensa, em auto-estradas inclinadas, inseguras, com o piso encharcado, e os pneus bastante carecas, o melhor é nunca passar dos 50…

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