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O telefone

Durante uns dois anos, era quase impossível falar ao telefone. O novo smartphne de marca branca funcionava razoavelmente enquanto dispositivo inteligente, para usar a Internet, o Facebook, o Messenger, as pesquisas, os sites de notícias e a modesta câmara fotográfica.

Mas para telefonar, o telefone não tinha grande préstimo. Se eu ouvia os interlocutores sem problemas, estes nada entendiam do que lhes dizia. Não valia a pena falar mais alto, gritar, soletrar as palavras, que ficava tudo na mesma.

Era isso que se passava há uns dias, quando conversava com um amigo. Prático e experimentado, disse-me para pôr o aparelho em alta voz, e depois baixar o volume ao meu gosto, já que isso só ia afectar a minha audição, e não a de quem estivesse do outro lado.

Ficou a ouvir-me na perfeição. Mas era preciso fazer mais uns testes. Liguei para casa da minha mãe. Pela primeira vez em muitos meses, as palavras chegaram-lhe com clareza cristalina.

Aproveitei quando foi para o Alentejo e voltei a telefonar-lhe. Percebeu-me tão bem que pensou que estava a ligar do fixo.

Agora, sempre que alguém me contacta, tenho que perder alguns segundos a colocá-lo em alta voz e ajustar o volume.

Pareço um bocado desequilibrado a mexer no telefone e a pedir uns momentos à outra pessoa, enquanto esta espera que eu finalmente comece a falar.

Mas agora já tenho um aparelho um bocadinho mais normal. Posso ligar às pessoas, e, se fosse preciso, até podia fazer entrevistas à distância. A minha vida social acaba de ficar muito melhor!

Agora só resta mesmo o problema da memória. Só tenho umas 30 fotos no dispositivo, as únicas aplicações que lá estão são as “obrigatórias” (mail, Google, Facebook, Messenger e as que vêm com o telefone e não se conseguem apagar).

Mesmo assim, tenho menos de um giga disponível. E há sempre alguma coisa que não está a funcionar bem. Enfim, gosto muito da tecnologia e dependo dela, mas quando algo corre mal (o que é frequente) dá-me vontade de voltar aos tempos saudosos do Paleolítico!

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