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Medo de andar de metro

Senhores passageiros, a circulação na linha azul encontra-se interrompida. Não sabemos quando será retomada”. Como o funcionário humanamente presente mostra não saber mais do que a voz que sai das paredes, revelando que “podem ser minutos ou horas”, subo para a rua.

Informado por um motorista da Carris, procuro o 712. Surge uma moça morena, simpática e conversadora, de 25 anos, dizendo que veio a pé do Rossio e queixando-se do calor “horrível”.

Diz que não anda de metro porque tem medo, e, embora viaje frequentemente de avião, fá-lo sempre em pânico. Tem família na Alemanha, afirma que andou lá entre as nuvens no dia que se seguiu ao dos atentados do 11 de Setembro, e, noutra altura, apanhou uma tempestade, embora a aeronave voasse algumas centenas de metros acima da turbulência.

Doutra forma seria impensável para a menina de olhos escuros e sonhadores. Uma vez apanhou um voo sozinha, e, apesar dos calmantes que toma sempre nestas ocasiões, chorou até aterrar. Quanto a hoje, ia para o campo de Santa Clara, apanhou o autocarro em Santa Apolónia mas sai na Feira da Ladra.

À minha frente, um trio de homens animados e faladores. Um deles, 50 e muitos anos, ar completamente inofensivo e olhos totalmente roxos, toca uma música no realejo que lhe sai do bolso, após a insistência dos amigos, e depois conta ao outros o que se passou na noite anterior.

Diz que foi algemado, esmurrado e levado para a esquadra, sem que se consiga perceber porquê. Foi na zona do Intendente… Que, hoje em dia, é das mais chiques e cosmopolitas da cidade.

Um dos companheiros, com uns 20 anos a menos, sai do autocarro  antes da Praça do Chile e diz que vai “pôr isso tudo aqui no Magalhães”. Leva com ele a malinha contendo no interior o célebre e pequeno computador portátil infantil lançado na era de José Sócrates, e que mais tarde se tornaria polémico.

O plano era ir de autocarro até à rua da Artilharia Um, e depois subir para o Espaço Amoreiras, não muito longe do Centro Comercial Amoreiras. Chegados ao Marquês de Pombal, toda a gente sai. “Então, não sabe que ao fim-de-semana o autocarro só vem até ao Marquês?!”.

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