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“Não, não, eu não quero falar… Isso é ração?!”

Era um homem de poucas falas, metido consigo mesmo e que não dava conversa. Naquela noite, escolheu-se uma abordagem diferente. Começo a meter-me com as cadelinhas que ele tinha, apesar de estar na rua. A fazer-lhes festinhas, a conversar com elas e a perguntar-lhes se estavam boas. A atitude do humano transformou-se de imediato. Acabámos por estar uns 20 minutos a falar sobre a vida dele, e afinal tornou-se mais fácil saber o que é que poderíamos fazer por ele, ou pelas amigas de quatro patas.

 

Noutro lugar e numa hora diferente, há uma mulher idosa, ar frágil e carente, que insiste invariavelmente em dizer que não quer ajuda de ninguém, nem comida nem o que quer que seja. Mas naquela noite vê-nos com um saco de ração… Esta senhora tem alguns gatos, e alimenta outros tantos, que são da rua. À vista da ração, trazida para os seus companheiros peludos, a nossa amiga fugidia pára para falar connosco. E conversa longa e demoradamente com o grupo até este ter mesmo que se ir embora.

 

Já passaram alguns Invernos, entretanto. Foi mesmo nessa altura do ano, a pior para as pessoas e animais que vivem na rua, que algumas cabeças se puseram a pensar. Há pessoas que vivem na rua, e são ajudadas por várias instituições, como por exemplo a Comunidade Vida e Paz. Há quantidades infindáveis de animais de estimação sem casa, e também muitas entidades tentam ajudá-los, esterilizá-los, alimentá-los. A Animalife, por exemplo, apoia animais de pessoas carenciadas.

 

Além disso, há muitas pessoas que vivem na rua ou em condições mais que precárias, e têm cães, ou gatos… De quem gostam tanto que, muitas vezes, não saem da rua por não poder levar consigo o seu melhor amigo canino ou felino. Mascotes que, em muitos casos, são mais bem tratadas do que aquelas que vivem numa casa normal, onde entra mensalmente um salário. E que são frequentemente a única companhia destas pessoas que nada têm, o último amigo e mesmo a fonte de aquecimento exclusiva no Inverno, na rua.

 

Então, pensaram a Comunidade Vida e Paz e a Animalife, porque não ajudar humanos e animais ao mesmo tempo, em conjunto… Depois das primeiras experiências-piloto, as rotas nocturnas da Comunidade Vida e Paz, dedicada ao apoio e reinserção social das Pessoas Sem Abrigo, passaram a incluir, também, voluntários e ração da Animalife. Levando às Pessoas Sem Abrigo que tenham animais ração para estes, palavras de sensibilização para a esterilização das fêmeas, e o agendamento de cuidados veterinários nos casos em que haja necessidade.

 

É um trabalho importante: Estas pessoas, normalmente, não vão a lado algum sem os seus amigos peludos. E estes animais, que partilham da sorte do seu humano, ajudam-no de várias formas. Fazem parte do seu projecto de vida. São mais um estímulo para que estas pessoas em carência tentem melhorar a sua vida, para poderem também dar condições aceitáveis ao companheiro de todas as horas.

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  1. E nunca, em caso algum, se devem separar estes seres. Quem escolhe não virar a a cara a ser algum em risco, gente, gato ou cão, sabe bem como, tantas vezes, levando ajuda a um animal, vai dar com idosos, principalmente, em condições muito graves, mas que só desistem do seu amigo de 4 patas quando já desistem igualmente de si próprios; quando a força já se esgotou. Todos os sem abrigo com animais que tenho conhecido os tratam melhor, em termos de afeto do que muitas outras pessoas, com capacidades financeiras normais. Afinal eles só se têm um ao outro. A família são ELES.