Nenhuma ideia do que ia acontecer, era isso que se passava na minha cabeça. Era 13 de Dezembro, um dos dias mais chuvosos em Lisboa e em todo o país em muito tempo.
Tinha encomendado um pacote de sete latas de patê na clínica veterinária, na capital, e não era muito agradável pensar que iam ficar lá, sozinhas, até ter oportunidade de passar pelo lugar.
Já que havia tanta água, decidi que o melhor era ir de barco. Com os cacilheiros estava tudo normal, ainda que abanassem de forma razoavelmente emocionante.
Do lado de cá, aparentemente, o Metro de superfície estava parcialmente não operacional.
Na grande cidade, nessa altura, só uma estação do metropolitano não funcionava. Algumas das linhas de comboio terrestre já estavam encerradas.
Para fazer o percurso de Cacilhas ao Areeiro e o regresso, bastou o período entre as oito e cinco e as nove e doze.
Encontrei de passagem a Minha Querida Doutora, na clínica, e uma das gentis auxiliares, além de um dos outros médicos, todos um pouco perdidos com o temporal que assolava o território.
Depois da viagem estranhamente tranquila, estive a olhar para o rio. Um cenário de filme. Águas agitadas, nuvens negras, a Ponte 25 de Abril ao fundo.
Nessa altura, tratou-se de arranjar qualquer coisa (um saco) para me sentar sem me molhar na melhor esplanada de café, de onde se vê a bela e renovada área da estação, e a outra margem; iniciar as infusões diárias de cafeína, fazer as palavras cruzadas e ler o jornal.
A seguir, visitar os meus amigos cães e gatos de loja e de rua que estavam disponíveis para tal, voltar a casa, iniciar o dia de trabalho. E ir acompanhando as notícias de caos, inundações, cheias, cortes de estradas, condicionamentos de transportes.
Quase como se fosse noutra nação.