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Frigorífico Fatal

Jebediah Ebenezer Ferreira colocou as últimas quatro doses de sopa de feijão no congelador e foi trabalhar.

Era assim todos os dias e corria sempre bem. Quando aquecia e engolia o alimento, vivia momentos de gloriosa felicidade.

O problema foi quando o congelador começou a não fechar. Jebediah bem tentou atá-lo, empurrá-lo, escorá-lo, entalá-lo.

Voltava sempre a abrir-se.

Ficava eternamente uma pequenina fresta da porta à espreita, embora a manietasse diariamente com uma corda.

Por dentro começaram a crescer, progressivamente, massas de gelo que Ebenezer desfazia todos os dias, pacientemente, com um pequenino escopro e uma pedra da rua.

Ao fim de muitos meses já só funcionavam dois terços do congelador, mas para ele era mais do que suficiente.

Isso não foi, de todo, o mais grave.

Enquanto isto acontecia, também dentro da área de conservação normal do frigorífico uma placa branca e gelada ia crescendo, crescendo.

Pouco tempo depois, já ocupava 40 por cento do frigorífico.

Jebediah Ebenezer ignorou as vontades do electrodoméstico caprichoso e continuou a fazer a sua vida normal.

Estava mais que visto que alguma coisa levava aquele armário de refrigeração a ter as suas próprias ideias e impulsos.

Ele fazia-lhe orelhas moucas. Era um combate de personalidades.

Até que o aparelho tomou medidas drásticas para conquistar a atenção de que se julgava merecedor.

Em poucas horas, decidiu derreter todas as placas que tinha parido dentro de si.

Jeb passou uma noite inteira às voltas com toalhas e cobertores, para impedir uma inundação.

Mas era teimoso. Ignorou a mensagem enviada do mundo do frio.

Um dia quis entrar dentro da cozinha e não conseguiu. À sua frente tinha uma parede branca e fria que o impedia de avançar.

Viu tudo o que se encontrava dentro daquela estrutura transparente e impossível de quebrar. O próprio frigorífico. A máquina de lavar. Os armários com os pratos e os copos no interior.

Jebediah Ebenezer Ferreira respirou fundo, encheu-se de coragem, pegou no martelo pontiagudo que tinha comprado na semana anterior e avançou para dentro daquela massa de gelo infinita e implacável.

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