O Aranhiço passeava-se sobre o guardanapo.
A mesa tinha acabado de ser cuidadosamente limpa. Não são bichos que tenham gosto por sujidade.
São caminhantes e trabalhadores persistentes e higiénicos.
Do tamanho da carapinha do meu relógio de pulso, avançava, apressado, pela mesa.
Sou vegan, e tento sempre ao máximo não interferir com a vida dos animais, mesmo quando têm um milímetro. Limito-me a manter a casa limpinha, para que seja um ambiente bem saudável.
Estava bem disposto à frente do meu vegetable chow mein nepalês (massa) e do copo de Pias branco fresquinho. Não tinha pressa.
Pensei: “Porque é que eu hei-de estar a chatear-te, microscópico amigo? Vai lá à tua vida, eu espero para ter o guardanapo de volta.”
Fez isso mesmo e eu retomei a minha espectacular refeição semi-picante de oito euros, com café e mais de um copo grande de agradável vinho.
Curiosamente, depois disso ainda andou um pombo a deixar a sua carga na minha mesa, duas manchas grossas e brancas.
Na altura certa. Já tinha devorado e bebido tudo.