Ensinou-me a gostar de gatos, a amar e respeitar os felinos. Jeremias e a mana, a Matildinha, fizeram de mim, na verdade, o Vasco que sou hoje.
A primeira vez que me viu, o que Jeremias queria era festa, miminhos, animação e alegria. Foi assim toda a vida dele.
Jeremias era um bom bocado mais gato que cão. Era a minha sombra.
Se fosse 300 vezes à casa de banho, 299 delas teria Jeremias a rebolar pelo tapete, a esfregar-se, a pedir dedicação. Foi assim desde que o conheci, numa outra década. Foi assim até ao fim.
Jeremias tinha 14 anos, insuficiência renal profunda e prolongada, problemas de ossos, de estômago, de apetite…
Esta semana, antecipei dois dias a consulta semanal com a Doutora dos Gatos, a Dra. Helena Viana, em Lisboa. O apetite e o ânimo escasseavam já demasiado.
Três horas depois daquela movimentação e daqueles telefonemas todos para a remarcação da visita à clínica, o estado de Jeremias evoluiu vertiginosamente.
A energia, força e agilidade desapareceram muito rapidamente. Depois, o resto da fome também.
O fígado, os rins e o pâncreas sucumbiram, e sofreu uma infecção. Na clínica, continuou a piorar.
Respondi à Dra. Helena: “Não há mais nada a fazer, não é? Vamos acabar com o sofrimento do nosso tigre”. Ela: “Sim, em razão. Fizemos tudo o que era possível, mas não somos Deus, não somos donos da verdade. Vamos deixar o menino partir”.
Fiquei com ele até ao fim. Até o coraçãozinho deixar de bater.
Na última noite, antes de irmos à clínica, fui buscá-lo, levei-o para a minha cama e abracei-me a ele. Ficou tão feliz. Ronronou sem parar até a madrugada chegar.
Jeremias, corre agora pelos prados do paraíso, com o Chiquinho, a Matilde e a Lassie.
Obrigado, Jeremias, meu amor. Dá os meus beijinhos ao Chiquinho e à Matildinha. Obrigado, meu lindo e louco lince-gato-cão <3