O fumo separa-se do capitel e desce pela coluna da catedral, enrolando-se em volta do sátiro esculpido por mãos cuja vida há muito se apagou.
O botequim abre as portas ao cair da noite e acolhe hordas de conspiradores que atacam a governação da nação. Os frades oram e prenunciam o dia da chegada do Juízo Final.
Um frio acre penetra nos ossos de quem percorre as avenidas. O mordomo da mansão do governante repara na sebe mal aparada e equaciona as medidas a tomar.
Os dois tribunos defrontam-se na praça pública. “Eu sou mais sério e honesto que tu”, garante um. “Eu é que vou ajudar o povo”, jura. “Mas tu já foste governante”, dispara o outro. “Que fizeste tu? Quem auxiliaste? Só a ti próprio!”.
A população assiste à contenda sem saber o que pensar.
Se nas décadas anteriores poderia ser difícil escolher quais os mais adequados para assumirem responsabilidades no país, quarenta anos após não será mais fácil.
Os homens de poder não são muito diferentes uns dos outros, e quase nenhuns são os que se preocupam na verdade com os interesses dos cidadãos.
E esses ficarão muitas vezes escondidos. A arte da política não é o brio da competência e não coincide com o altruísmo, a vontade de agir pelo bem comum.
A política deste século é o ofício do engano e da palavra bela e sem substância. O político triunfante é o que fala bem e adormece o povo, esquecendo-o assim que se acha nas cercanias do Olimpo.
Não admira, pois, que os poucos que seguiam o debate entre os dois homens ficassem sem saber o que concluir.
Um pouco dizia e menos acertava. O outro lançava frases bonitas. Mas o que havia verdadeiramente atrás desses conjuntos de sílabas que sibilavam melodiosamente…?