Ofereci-lhe o seu patê renal matinal depois dos comprimidos e só quis metade. Na ração nem tocou. Os meus gatos agora comem em alturas específicas, duas vezes por dia, porque a sua alimentação é separada. A Amélia (isto é, a “Gááta!!”), o Jeremias e a Matilde têm insuficiência renal e o Chiquinho diabetes. Nesse dia, a primeira destes quatro estava sem apetite.
Observei-a ao longo do dia. Não estava ela. Não perseguia plásticos, metais, comprimidos, canetas ou fechos de casacos. Faltava-lhe o brilho de saudável loucura no olhar.
Parecia que tanto se lhe dava que fosse azul ou amarelo. À noite não quis comer outra vez. Liguei para a minha doutora e combinámos encontro no dia seguinte às oito da manhã.
Claro que não dormi… Levei-a para a cama e ficou em cima de mim um bom bocado, quieta, a ronronar baixinho. Normalmente fugiria, e só voltava se fosse ela a tomar essa decisão.
No dia seguinte lá estávamos com a nossa especialista em gatos, simpática e bem disposta como sempre. Fez umas quantas perguntas. Se tinha vomitado (sim), se engoliu, lambeu ou mastigou alguma coisa imprópria (difícil de dizer, por mais observador que se seja).
A conclusão foi que tinha um bocadinho de febre, gastrite e uma pequena infecção. Levou 150 mililitros de soro e a primeira – e penúltima – sessão de injecções de anti-vomitivo, antibiótico e anti-inflamatório.
Por um prazo de dois ou três dias ganhou direito a comer patê gastro-intestinal, em vez do habitual renal.
Meia hora depois dos tratamentos já era outra. Entrou dentro de casa de cauda no ar, em forma de ponto de interrogação, a querer questionar tudo, como se tivesse regressado naquele momento do mundo dos sonhos.
Pus-lhe o tal alimento digestivo à frente e devorou meia lata em segundos, embora não se interessasse pela ração sólida.
Regressaram os gritinhos carinhosos, os sons de espanto e encantamento, os saltos pela casa e a curiosidade permanente sobre tudo o que acontece. A minha “Gááta!!” voltou!