Concordo perfeitamente com a necessidade de demitir, pelo menos parcialmente, o Governo de Constança e Costa depois dos incêndios de 15 de Outubro e 17 de Junho.
Mas penso que é igualmente preciso derrubar o Executivo de Costa e Sócrates, o de Cristas e Passos, o de Santana, o de Durão, o de Guterres, os de Cavaco e talvez também os de Mário Soares.
Todos eles nos deram uma ajuda, para conseguirmos chegar ao desgraçado ponto em que nos encontramos hoje.
Os incêndios são cada vez mais e a prevenção diminui a olhos vistos.
Na década anterior, transferiram-se investimentos e preocupações da prevenção para o combate, revigorando o negócio privado da luta contra os fogos.
Neste momento, se a prevenção já não funcionava há muito tempo, a reacção vai pelo mesmo caminho.
São permitidas construções no meio de áreas florestais (que não são limpas nem preservadas por ninguém), e depois parece muito estranho que as chamas cheguem às edificações e aos seus habitantes.
A distribuição de meios operacionais ao longo do ano mantém-se igual, deixando o dispositivo impotente no final do Verão, como se não vivêssemos uma mudança ambiental radical: As alterações climáticas existem.
Os particulares continuam a fazer queimadas em zonas e dias de alto risco, sem se preocuparem com o perigo e sem que haja fiscalização.
Depois do que aconteceu em Pedrógão Grande, os sistemas de alerta e comunicação permanecem inúteis. O Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, SIRESP, parece ser um mecanismo luxuoso e excelente, desde que não haja qualquer tipo de emergência.
O ordenamento do território e da floresta são uns sujeitos que foram de férias há anos e nunca regressaram.
O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas não tem orçamento.
As estruturas de comando da Protecção Civil foram substituídas por profissionais sem experiência na área, no início da época de incêndios.
O crime de fogo posto, responsável por grande parte das ignições, compensa, a avaliar pelas penas decididas pelos tribunais.
E o país vai ardendo.