“São cinco da tarde, agora queria ver o que se passa na política”. “Na política? As urnas ainda não fecharam”.
“Sim, mas parece que em Espanha há feridos”. E havia. 800.
Não tenho uma opinião muito definida sobre o nacionalismo catalão, nem é isso que conta agora.
É uma história complexa. A Constituição espanhola não contempla referendos independentistas nem processos de separação.
Com a oposição das forças madrilistas, o governo e o parlamento regional catalão só poderiam ter feito aprovar um referendo independentista ilegalmente, e assim fizeram.
Com alguns episódios cómicos e caricatos, não especialmente edificantes, as forças que são oposição em Barcelona e que apoiam o governo central em Madrid foram impedidas de se pronunciar sobre o referendo e discuti-lo.
Já se sabia a sua opinião, e que tentariam impedir por todos os meios a convocação do referendo…
O Governo central de Madrid assumiu uma posição radical que muito agradou aos mais radicais de entre os independentistas.
Ao mandar polícias de choque contra velhinhas, crianças, jovens e homens de meia idade, a todos deixando em sangue e no hospital, Mariano Rajoy produziu as imagens de televisão e de redes sociais de que os radicais precisavam.
Agora, os independentistas são vítimas oficiais e públicas, bem documentadas, da repressão e ferocidade do Estado Espanhol, algo que, ingenuamente, não esperávamos ver no século XXI.
O radicalismo centralista e o radicalismo independentista seguem dentro de segundos.
Em Portugal, o homem que ganhou as eleições legislativas encontra-se agora acossado, humilhado, derrotado e desprezado pelos seus.
A mulher graças a quem as velhotas e velhotes de Lisboa foram despejados das suas casas ficou em segundo lugar nas eleições em Lisboa.
O homem que perdeu as eleições legislativas está agora mais perto de uma maioria absoluta nas próximas.
As forças que acompanharam o Governo e avermelharam com um pouco do seu sangue político o rosa do PS, afastando a austeridade e suavizando o garrote de Bruxelas, vivem agora dias difíceis.
A geringonça pode ter-lhes sido prejudicial em termos de votos. A vida é injusta.