Sapatos castanhos frescos, abertos e confortáveis, calças castanhas de tecido, pólo de manga curta claro e discretamente colorido, um relógio de pulso grosso, pesado e dourado, o homem cansado e com boa apresentação passa por mim.
Vai sentar-se numa das duas cadeiras de massagem, não para a pôr a trabalhar mas apenas para descansar. Coloca o boné, parecido com a blusa, no pequeno suporte ao lado da cadeira.
Troco dinheiro por algumas moedas de 50 cêntimos e sento-me na do lado enquanto passa pelas brasas.
Com a minha pequena carga de diversos ítens (jornal, livro de bolso de 800 páginas, agenda-bloco de notas), olho para o pequeno suporte no meio das cadeiras.
Abre os olhos de repente, olhamos um para o outro e apressa-se a deslocar para trás o boné, para que eu possa colocar tais objectos volumosos no suporte.
Digo-lhe que não se incomode, não vale a pena, posso perfeitamente deixá-los no chão. Insiste, diz que há espaço para tudo e acabo por aceitar.
Sento-me e coloco a pilha de moedas em cima da minha literatura e da carteira.
“Eu uma vez experimentei essas massagens. Mas olhe, no meu caso não faz diferença. Já tenho 80 anos!”. “Pois, por 50 cêntimos é o que se consegue arranjar!”.
Inclino-me para trás, coloco a moeda e a massagem de cerca de um minuto começa. Primeiro os pés, os tornozelos, as coxas. Depois as costas, os ombros, o pescoço, a cabeça.
Fecho os olhos, descontraio-me, deixo-me levar e adormeço por uns segundos. Não é o mesmo que ter alguém com qualidades profissionais e características humanas a fazer-nos uma massagem indiana, ayurvédica ou tailandesa, percorrendo todos os músculos e articulações, desfazendo cada nó e eliminando os focos de tensão, um após outro.
Mas não deixa de ser agradável e relaxante. Além de que uma massagem dessa estirpe custa um pouco mais do que 50 cêntimos.