Esteve numa publicação altamente prestigiada durante mais de uma década, mas deixou de se identificar com aquela casa e foi-se embora.
Experimentou o mundo das agências de comunicação. Era uma transformação muito grande e acabou por se virar para outro lado.
Depois disso trabalhou a nível independente, passou por várias experiências e transferiu-se para o sector dos agentes imobiliários.
Gostou da actividade, mas não da desorganização e incompetência da agência onde foi parar. Despediu-se.
Agora, diz que está a viver a “crise dos 40, atrasada”. Não sabe o que quer fazer à vida.
Há menos de dez anos, conseguia-se encontrar trabalho em jornalismo, a sua primeira área profissional a sério. Ou mesmo na produção de conteúdos.
Hoje, os preços baixaram dramaticamente, com o aumento impensável da oferta. Há muita gente nova a dar o litro de graça, ou quase. E há publicações onde só se trabalha de borla.
Diz que não coloca a idade no currículo, porque ninguém tem nada a ver com isso. Mas também, não é preciso. Basta ver a experiência para perceber.
Quando se chega aos 30 já se é velho, explica. Vê os anúncios de procura de trabalho nos sites especializados. Mas não recebe respostas às suas candidaturas. Nem sequer respostas automáticas.
Digo-lhe que a sua vida há-de resolver-se, como aconteceu até hoje. Sempre trabalhou muito, em todas as alturas se organizou e adaptou com inteligência e criatividade àquilo que ia acontecendo.
Responde-me que sim, vai ser assim… Mas, apesar disso, não sabe o que quer fazer e o que vai concretizar a seguir.
Observo esta pessoa talentosa, desenrascada e flexível que, há duas décadas, era “minha estagiária”.
Nesses tempos gloriosos havia muitos jornais (um ou dois mesmo muito bons), e informação radiofónica e televisiva com qualidade (também em uma ou duas estações).
Comenta que o jornalismo “é chão que já deu uvas”.
A década de 1990 deixou saudades, mas o tempo não volta para trás.