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Uma reportagem fatal

Ganhei uma montada estranha, para quem só estava habituado a conduzir pequenos automóveis utilitários…

Trabalhava, na altura, numa empresa de telecomunicações. Nesse tempo, já se faziam reportagens em vídeo para alguns sites informativos, e foi isso mesmo que fui fazer.

O tema era um espectáculo de ópera, e as sessões eram em Aveiro. A forma mais eficaz que a empresa encontrou para me colocar lá foi deixar-me usar um carro da companhia, que, por acaso, era um enorme e clássico Saab.

As dificuldades começaram logo à saída.

Era preciso utilizar um apertado e nada prático elevador de garagem, para retirá-lo do lugar onde se encontrava estacionado.

Ao contrário de todas as outras tarefas que a reportagem envolvia, esta revelou-se demasiado difícil. O prestigiado bólide ganhou um risco bem longo e visível na pintura, ainda antes de sair de Lisboa.

À excepção desse detalhe, o trabalho correu bem.

O incidente logístico foi prontamente comunicado aos superiores.

Após o regresso, cruzei-me com o director mais destacado, já devidamente informado. Não fez nenhum comentário, mas se a sua cara e os seus olhos matassem, nunca chegaria a poder escrever estas linhas.

Não houve qualquer consequência disciplinar, o que já não foi mau. Mas aquela organização nunca mais foi a mesma.

Graças a mim, foi criada uma nova norma interna. Os jornalistas daquele departamento que ainda estivessem a contrato, como era o caso, deixavam de poder usar carros da empresa para os seus serviços exteriores.

Para mim, ficou a experiência diferente e surpreendente de conduzir um exemplar dessa marca, de que sempre tinha ouvido falar mas que nunca tinha visto materializar-se precisamente à minha frente.

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