A caminho da instituição de saúde onde vou visitar o meu ancião e sábio amigo, à saída dos transportes, encontro uma cara conhecida, um protagonista de um momento insólito.
Está com o cabelo muito mais curto e com uma roupa diferente, mas não há dúvidas de que é o mesmo rapazinho que, há uns meses, me visitou, para me propor uns descontos nas contas mensais, e na altura ficou surpreendido por ver tantos gatos cá em casa.
Insisto e esclareço que não, que não vou contribuir para mais uma associação, mas agradeço e elogio o trabalho dele.
Pergunto-lhe se antes não estava numa empresa de telecomunicações. Diz que não. Não fico convencido mas vou à minha vida.
Ao regresso, duas horas depois, corrijo a pergunta: “EDP!!”. “Ah, sim, trabalhei na EDP.”. “Então, você foi à minha casa, viu os meus gatos, a Matilde estava com uma camisola cor-de-rosa, a recuperar da operação”.
“Ah, pois, já me lembro!!”. Pois, eu sabia. Mas as surpresas ainda não terminaram.
Um metro à frente, encontro uma loja indiana. Onde trabalha… O homem que costumava estar, até há uns meses, num estabelecimento igual em frente à minha casa. Vou falar com ele.
Conversamos uns minutos. É dono desta e de outras duas lojas, e também de um tuk-tuk.
Pergunta-me se quero levar alguma coisa. Digo que não, não preciso de nada.
Insiste. Só depois a minha barriga, em vácuo desde o almoço há mais de quatro horas, percebe.
O homem encarou a minha entrada na loja como se fosse uma visita a sua casa. Oferece-me amável e afavelmente uma banana, que o meu estômago vazio colado às costas muito agradece.
É um acto de hospitalidade, a retribuição pela visita.
O diálogo com o meu amigo internado já tinha sido bastante enriquecedor e interessante. Os bastidores dessa mesma visita não foram menos surpreendentes.