Na secretária do escritório pessoal, redigia algo no computador. Ao colo, enroscada e feliz, a Matildinha, com o seu vestido cor-de-rosa, que foi obrigada a usar de novo, para acabar de cicatrizar correctamente, um mês depois da operação.
Um tanto ou quanto imobilizado e sem poder fazer grande coisa, portanto. E sem me lembrar que, além do Chiquinho e do Jeremias, tenho também uma gata intrépida e audaz, a “Gáata!!”, que gosta de saltar para as portas e janelas, além de se deliciar por pular para cima de mim e repousar sobre os meus ombros, quando ando pela casa, quando estou a almoçar, quando me encontro na casa de banho…
O passo seguinte, que procuro, se possível, evitar, é a tal passagem para as portas ou janelas. Que foi precisamente o que ela fez nesse dia. Quando estou de pé e com as mãos livres, vou para junto da porta ou da janela, eventualmente para cima de uma cadeira, e enfim, ela lá acaba por se deixar convencer a descer de novo para a segurança dos meus ombros.
Os felinos, às vezes, só se lembram do que lhes convém. Esquecem-se que subir é muito fácil, mas voltar para baixo já não é a mesma coisa. Como estava com a Matildinha ao colo e não queria perturbá-la, nem tinha à mão o borrifador de água para convencer a “Gáata!!” a regressar mais depressa, dei umas pancadinhas na janela com as mãos e os dedos, para ver se ela acelerava a saída da embaraçosa situação.
Nada. Continuou ali, confusa e inquieta com a posição que obteve para si própria. Passado um bocado, finalmente lá acabou por conseguir vir por aí abaixo sem mais delongas ou atrapalhamentos. Aterrou em cima da mesa, felizmente sem a levar à frente.
Devo dizer que a “Gáata!!”, além de viver permanentemente ao meu colo, nos meus braços e nos meus ombros, e de se lançar para cima das minhas costas em todas e quaisquer situações, faz ainda outra coisa igualmente enternecedora.
Quando está em cima do micro-ondas onde aqueço o jantar, e vou convencê-la a sair de lá para lhe dar a medicação, estica os bracinhos para mim como um bebé.
Vem, como já é de esperar, para os meus ombros, miando com o amor e carinho de uma criança pequenina e ronronando de felicidade e satisfação.
Os sons invulgares, meigos, doces e infantis que a “Gáata!!” faz para mim já se tornaram conhecidos entre quem vem cá a casa ou trabalha na clínica veterinária. Para mim, são uma canção que embala, descontrai e conduz à felicidade absoluta.