Adormecera às sete da manhã, não faria sentido acordar às sete da manhã. A hora de levantar passou para o meio dia. Era o primeiro dia do ano.
Vegan agora para sempre, a vontade de almoçar em casa era pouca. Comedouros abertos, havia os templos do hambúrguer e os lugares turísticos. Aproximei-me de um e estudei-o. Creme de cenoura, tosta sem Nada, cerveja a preço aceitável. Foi esse o almoço.
Em cima, uma Ginginha, numa das duas Ginginhas do Rossio, a mais genuína e menos turística. E depois, uma ida à farmácia. No primeiro dia do ano, o peso é de 77 quilos, dos quais se desconta para aí um quilo de roupa. Menos uns quatro do que há três meses.
Mais algumas centenas de metros, um passeio na avenida. A leveza de espírito é tal que só uns quarteirões depois o braço parece demasiado leve.
Onde está o livro, a bíblia das almas livres, Liberdade ou Morte, de Nikos Kazantzakis? Na farmácia. As centenas de metros que separam os dois pontos desaparecem em segundos e o livro regressa ao legítimo e esquecido proprietário.
Algum tempo depois, é altura propícia para ver o magnífico filme A Dançarina.
À saída, um dos encontros felizes do dia. A., que em tempos viveu na rua, e vai todos os dias buscar comida à carrinha da Comunidade Vida e Paz, saúda com a boa disposição de sempre.
(Foto- António Santos)
“Esta semana convidaram-me para ver o último filme da série do Star Wars, e fui. No próximo vai aparecer a Carrie Fisher, em cenas que foram filmadas antes de ela morrer. Neste entrava, mas eram imagens antigas, dos filmes anteriores, e notava-se perfeitamente. Também aparecia aquele general, que já morreu há não sei quanto tempo.”.
Há um rapaz que pede Um Euro, e ouve a explicação: “Daqui a bocadinho estão ali fora a carrinha da Comunidade Vida e Paz e as de outras instituições. Algumas delas até trazem comida quente”.
A. está com uma constipação. “Proteja-se bem, que isto este ano está muito complicado. Os hospitais estão cheios de pessoas com gripes”.
No caminho para casa, ainda há tempo para reparar num carro que manobrou delirantemente, ao ponto de ficar com duas rodas no ar e outras duas enfaixadas no do lado…