A rapariga é apanhada desprevenida mas esboça imediatamente um largo sorriso, mostrando os seus dentes brilhantes e os olhos escuros e acolhedores.
“Olá! Como está? Como se chama? Já ouviu falar em nós?”. “Sim, claro. Ouço as notícias todos os dias na rádio, e penso na guerra da Síria, nos refugiados, nas mulheres, nas crianças… Ninguém faz nada por eles, e ninguém tenta fazer, a não ser vocês, as Organizações Não Governamentais (ONG). E com muitas dificuldades”.
“Pois é. Deixe-me mostrar-lhe as várias formas de ajudar a UNICEF, e os valores de cada um dos donativos. Sabe quanto custa vacinar uma criança contra a poliomelite?”. “Sei lá… Um euro?”. “Foi a pessoa que se aproximou mais do valor real. Trabalha em saúde?”. “Não, mas penso muito nestas questões”.
Enquanto me pergunta se moro na Quinta do Conde ou em Alcântara, onde acha que já me viu, a rapariga, que se chama Joana Ribeiro, revela-me a resposta à pergunta.
“43 cêntimos. Acha que podia pagar uma vacina contra a poliomelite por dia? Agora, só temos um problema. Mesmo que eu morasse perto de si, não me dava muito jeito ir buscar as 43 moedinhas a sua casa todos os dias”, diz, e gesticula expressivamente.
Vou preenchendo o impresso com os dados, e recebendo a chamada de confirmação dos mesmos, do call center da UNICEF. Observo os sorrisos e a simpatia das voluntárias e voluntários competentes e profissionais da organização, apesar do frio que atinge o centro da cidade naquele dia.
Continuo a pensar nas crianças, nas mulheres e nos velhos da Síria, assassinados em massa por Assad e Putin sem defesa nem preocupação por parte do mundo.
Ninguém fez nada por eles. Ninguém quis saber deles. A não ser algumas ONG, que tentaram salvar algumas dessas pessoas, mas com grandes dificuldades e poucos resultados, porque não as deixaram. Fico a torcer para que esta rapariga e os seus colegas consigam muitos apoiantes. Para que alguém tente fazer alguma coisa.