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“Ele continuava atrás de mim”

“O tipo apanhou-me sozinha e eu não tinha maneira de me defender”, diz a rapariga de uns 20 anos, morena, de rabo de cavalo, saia, meias de vidro escuras e roupas floridas, à senhora idosa, de casaco de Inverno cinzento, comprido, ao seu lado.

“Dei-lhe o que tinha. Disse-lhe: ‘Olhe, eu sou estudante, não tenho mais dinheiro, não tenho mais nada, deixe-me em paz’. Mas ele continuava atrás de mim, continuou sempre atrás de mim. Eu achei que ele podia violar-me, bater-me, fazer o que quisesse, se continuasse a perseguir-me até casa”.

“Pois, podia fazer o que quisesse”, comenta a mulher, impressionada.

“E não havia ninguém a quem pedir ajuda. Já não tinha o telemóvel, não podia telefonar a ninguém. Ele continuava atrás de mim e dizia que não me estava a seguir. Mas estava, porque eu mudei de caminho, voltei para trás e continuou a perseguir-me”.

“Pois, não podia fazer nada”, concorda a senhora, olhando-a com o rosto enquadrado pelo cabelo bem penteado, em pequenas ondas, e apanhado.

“A minha sorte foi que de repente apareceu um carro com uns rapazes. Fui ter com eles, desesperada, e expliquei-lhes a situação. Eles levaram-me dali, felizmente. Disseram-me que só não podiam ir comigo mesmo até à porta de casa porque tinham que ir entregar o carro. Se não fossem eles, não sei. E não havia polícias em lado nenhum! Quando precisamos deles nunca aparecem!”.

“Pois, antigamente não era assim”, comenta a mulher, que a ouve atentamente. “Havia polícias na rua e mantinham tudo na ordem”.

“Oh, mas que ordem era essa?”, reage a rapariga, nada convencida, e respondendo à sua própria pergunta: “Essa ordem era repressão. E mesmo agora, eles quando agem é sempre com excesso de autoridade!”.

“Não, não é isso”, responde a senhora do casaco comprido, sem mudar a expressão preocupada nem o tom de voz suave. “Havia ordem”, repete.

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