“Bom dia!”. “Bom dia!”. “Não é muito cedo para estar aqui?”. “De manhã é que se começa o dia”, respondo, divertido. Não sei como se chama, por isso, para já, vou chamar-lhe Ioan.
Todos os dias lá estava, bem cedinho, a fazer o seu trabalho de segurança e a abrir o ginásio. Sempre alegre, gentil e bem disposto, a qualquer hora. Foi assim durante vários meses.
Mas desconfio que este jovem da Europa de Leste, aparentemente romeno, já deve ter vindo para cá com formação de PT (Treinador Pessoal, preparador físico…).
E tanto assim é que, uns meses depois de começar a espalhar a sua simpatia e humildade por aquele lugar de transpiração e sacrifício, conseguiu mudar a sua sorte e o seu estatuto.
Agora, o Ioan já é PT. Dá apoio à sala de acesso livre do ginásio, onde os desportistas de todas as idades e tipos fazem a sua preparação física, os seus planos de treinos, os seus aquecimentos e alongamentos.
A aula de abdominais dele estava a chamar por mim. Já não fazia abdominais havia demasiado tempo. Pensei: “Este tipo tem um ar tão simpático, isto não vai ser demasiado duro!”.
São aulas de cerca de dez minutos, repetições de meia dúzia de exercícios durante 30 segundos, normalmente em dois ciclos. Ao fim dos dois primeiros exercícios já não conseguia mexer-me, e assim me arrastei até ao fim.
Gostei do desafio, que, obviamente, não consegui vencer. Gosto do “Ioan”. Por aquilo que consigo ver, desde o primeiro dia que me parece um tipo impecável. Esforçado, humilde, competente, determinado.
Gosto de viver num mundo onde os Ioans, os Johns, os Myagis, os Li, os Prabaker, os Ravis e os Gonzalez de todo o planeta serão sempre bem vindos e acolhidos de braços abertos e olhar reconfortante. Gosto de viver na Europa e no Ocidente que conheço há 45 anos. Estou interessado em viver numa realidade onde as tretas, pantominices e mentiras populistas, extremistas, racistas, preconceituosas, xenófobas e Trumpistas não têm direito à existência porque não são uma visão verdadeira, aceitável ou civilizada da existência.
Os verdadeiros democratas e defensores da liberdade, todos eles, devem despertar e manter-se extremamente atentos. O mundo não é dos extremistas, dos populistas e dos manipuladores do medo. O mundo é de todos e para todos.