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“Diga-me, passou na inspecção?!” “Ah, passam sempre!!”

Meia hora antes da inspecção, ligo para a EDP. A chamada é paga e demorada. “Não, não tem nenhuma inspecção marcada!”. “Han?! Tenho aqui o mail que o comprova!!”. “Então mande-me o mail.”.

Ligo os dados, mando o mail e pago, porque já tinha gasto o limite mensal. Volto a telefonar e a pagar. “Hm?! Quem é que lhe disse isso? A sua inspecção está marcada para as 11H00, está tudo certo. O Engº Pedro já deve estar aí, ou quase a chegar!”.

Respiro e espero. Às 11H10, chega o Engº Pedro. O Engº Pedro deve ser um cinquentão cinzentão de sapatos pretos de couro, fato cinzento e gravata da mesma cor, a queixar-se do calor sufocante e a exigir papelada atrás de papelada…

O Engº Pedro entra. É um rapaz de menos de 30 anos, calções brancos quadriculados, T-Shirt colorida, óculos escuros alaranjados, cabelo rapado, tablet, smart-phone e mochila, bem disposto e descontraído.

Desconfiado, não me deixo levar pelas primeiras impressões, de pé atrás até ao fim. Fotografa a caderneta predial e o registo da conservatória, acha que não faz sentido nenhum eu dar-lhe aquilo, ele digitalizar e enviar para o serviço respectivo.

A planta, o plano do aquecimento, dos caixilhos, a licença de construção, tudo referido no mail de confirmação da inspecção… É como se nunca tivesse ouvido falar nisso, felizmente. Quanto ao tubo que me parecia colocado num lugar meio estranho, a mesma coisa: Não existe. Trocamos animadas impressões sobre o calor, a paisagem, a vizinhança, o que fazer quando uma criança pula, salta, rebola, grita, canta e esperneia sem parar. Gargalhadas aqui e ali.

Com os seus sofisticados dispositivos electrónicos vai medindo, estudando, aferindo, fotografando, eficaz e rapidamente. Pouco mais de 15 minutos depois (o mail de confirmação referia uma a quatro horas), a inspecção energética está terminada e um autocolante a referir isso mesmo afixado. O Engº Pedro não me pede os 60 euros obrigatórios que a EDP referira ao telefone. Pergunto-lhe se está tudo bem, se não falta nada. Responde que sim, que já está. “Passou?! Chumbou?!”. “Ah, isso, passam todas!! É só uma questão de classificação!”.

Talvez um dia, daqui a muitos anos, a Humanidade chegue a esta conclusão: De facto, a nossa breve passagem por estas bizarras paragens é afinal um daqueles saudosos gelados tradicionais, em cone triplo, com três sabores. Chocolate negro do Equador; chocolate de Oreos originais de chocolate; no fundo, por baixo de tudo, obviamente, Nutella. E, vários centímetros acima, duas coberturas a coroar. De Brownies, naturalmente, e de bolacha americana – com pepitas de chocolate negro, como é evidente.

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