A miúda levou cada um dos companheiros alcoolicamente bem dispostos a casa, uns conhecidos há anos, outros há minutos. Os amigos jovens universitários, ela adolescente, tomava conta de todos.
Fazíamos festas em todo o lado e a toda a hora, à volta da voz dela, de uma garrafa de qualquer coisa e de uma guitarra. Os vizinhos queixavam-se muito.
Íamos para a praia de manhã, de tarde, de noite. No meu caso, deu direito a uma queimadura bem grave e perigosa, de não sei quantos graus.
A míuda era uma miúda mas já percebia de medicina. Colocou-me uma pomada muito especial em toda a superfície das costas, tentando reduzir as hipóteses de cancros futuros.
Houve uma passagem de ano em que 15 minutos bastaram para eliminar a breve e fugaz existência de um litro de Passport Scotch, o que levou a atravessar portas, rolar em muros à beira do abismo e chegar directamente à passagem de ano da década seguinte, imaginariamente. A miúda estava lá para apanhar os cacos.
Houve Festas do Avante com strip-teases semi-integrais, noites dormidas ao relento mas com o estômago bem aquecido. Houve casamento, mudança de casa, alterações de vida, divórcio. A miúda assistia.
Houve debates e divergências. A miúda é a pessoa mais sincera que conheço. Fico a remoer e a enrolar-me nas verdades que me diz, sabendo que tem razão, não conseguindo admiti-lo, graças à minha casmurrice.
A miúda está lá, com o marido, o Homem dos Livros, a mascote linda e medrosa, a filhota que tem toda a energia que ela e o companheiro talvez tenham tido quando eram pequenotes. A miúda nunca se vai embora. Graças aos Céus.
Gostei muito. Parabéns pela maneira como nos consegue manter presos e arrepiados com a leitura. Só gostava de conhecer a miúda… Beijinhos Helen
Obrigado, Dra. Um beijinho muito grande.