Conheço três enfermeiras maravilhosas, e acredito que o sistema de saúde está cheio de gente de magnífico calibre. Mas o Estado está há anos em guerra com o seu próprio serviço de saúde, e com os respectivos profissionais. Eles defendem-se como podem. Protestando, reivindicando, fazendo greves.
Em todas as greves há vítimas. Quando as greves são feitas pelos profissionais da saúde, em protesto contra a forma como são atacados pelo Estado, as vítimas podem ser de vários tipos…
Esta história, ouvi-a eu da boca da A., mãe de uma grande amiga minha. Conta ela:
“O meu pai está desde segunda-feira internado na Sala de Observação (SO) de um hospital [um Hospital do Sector Empresarial do Estado], com uma pneumonia e uma infecção generalizada, que desenvolveu na própria unidade hospitalar, uma semana antes, quando esteve lá com uma semi-paragem renal”.
A informação clínica “é dada de manhã, das 10h30m às 11h30m. As visitas são das 17h às 18h. Só é permitido um familiar próximo, e duram um máximo de 30 minutos – o que é compreensível, tendo em conta a situação clínica dele e dos outros doentes que ali se encontram”.
Durante estes dois dias de greve dos enfermeiros, “não houve visitas no SO, a informação clínica foi dada na manhã do primeiro dia de greve e ontem foi-me fornecida à tarde – por especial favor e porque me desloquei ao hospital. Entretanto, insisti em vê-lo”.
A mãe da minha amiga relata que, quando pediu para ir só dar um beijinho ao pai e sair logo, a resposta foi:
“Mas é que nem pensar!”
A. pergunta, sem esconder a tristeza, “que culpa” tem um homem de 83 anos, “acamado e a lutar pela vida?”. E desabafa: “Porque foi ele o castigado, não podendo sequer ter um beijinho de encorajamento?”.