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O que está a acontecer

Aí chegada, a alma parou, angustiada, como um papagaio no seu zénite, quando o vemos fixar-se subitamente, e, em terra, a criança, com a corda nas mãos, que faz um arco. Aí chegada a alma parou, esperando que se descesse o corpo para que ela pudesse subir, que a terra o recebesse para que ela pudesse ganhar altitude, no alto e em baixo, o corpo e a alma, não constituindo senão um”.

A alma era a do professor e deputado pacifista grego Gregoris Lambrakis, morto em 1963 pela extrema direita grega. O assassinato do político é descrito no livro Z, de Vassilis Vassilikos, e no filme do mesmo nome do realizador Costa Gravas.

Numa altura em que a extrema direita ressuscitou na América e na Europa, faz sentido pensar no que é que isso quer dizer. Donald Trump foi eleito com o apoio expresso e empenhado da extrema direita. Era o candidato acarinhado pelo Ku Klux Klan, que comemorou a sua vitória com um comício.

Durante as décadas de 1950 e 1960, o Ku Klux Klan assassinou centenas ou milhares de pessoas apenas por serem negras. E hoje, continua tão racista como nessa época.

O homem que Donald Trump acaba de nomear para seu conselheiro principal chama-se Seve Bannon. É um activista de extrema direita. É racista, detesta os judeus apenas por serem judeus, maltrata as mulheres e considera que são seres inferiores.

Os encontros políticos que Donald Trump considera prioritários na sua agenda são com o político britânico Nigel Farage e a francesa Marine Le Pen. Ela de extrema direita, ele muito próximo dessa definição e inimigo de todos os residentes não britânicos.

O que significa ser, como o político holandês Geert Wilders, o austríaco Norbert Hofer ou a alemã Frauke Petry, de extrema direita? Significa que não gostam de estrangeiros e que não os querem no seu país; que são racistas, que odeiam um grande número de pessoas apenas por serem de outras raças (embora a palavra raça seja muito contestada pela ciência).

Quer dizer também que não gostam de homossexuais e não os consideram seres humanos com o mesmo estatuto dos outros. Também indica que detestam a liberdade. Não aceitam a liberdade de expressão, de imprensa, de pensamento.

Na Hungria, onde governa o primeiro-ministro Viktor Órban, com posições muito idênticas às do pensamento de extrema direita, a Imprensa tem sido maltratada. Os refugiados têm sido encarados como se fossem criminosos, apenas por serem refugiados, que fogem para a Europa porque são perseguidos pela guerra, pelo terror, pela fome.

Donald Trump apresentou-se como alguém que lutaria contra o sistema político e económico. Na verdade, ele foi produzido pelo sistema económico e foi uma das pessoas que mais beneficiaram dele.

De qualquer maneira, há uma série de coisas que se estão a apoiar sempre que se dá força a Donald Trump e aos seus admiradores. Donald Trump representa a extrema direita e os seus princípios. Admirá-lo é elogiar a extrema direita.

Apoiar a extrema direita, na América, na França, na Alemanha ou em qualquer lugar é acreditar que devemos odiar os não brancos porque não são brancos; os homossexuais por serem homossexuais; que as mulheres devem ter um papel inferior na sociedade; que não temos direito à liberdade, a dizer e escrever o que sentimos e pensamos. Apoiar Donald Trump é concordar com tudo isso.

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