“Ão, ão, ão, ão. Caííínn!! Caííínn!! Ããoooo!!”. É um cachorrinho acinzentado, amoroso, com escassos meses, lenço azul ao pescoço. No Sábado, os meus vizinhos do prédio do lado decidiram trazê-lo para casa – imagino que o tenham comprado.
Não sei como se chama este companheiro canino meigo e bonito. Até descobrir o nome dele vou imaginar que foi baptizado de Gogol. Mas com a vinda de Gogol para esta morada começaram os problemas. Para ele.
É um cachorro, um bebé. Alguém que precisa de mimo, atenção, espaço, companhia e brincadeira. E que ainda deve estar a sentir muito a falta da mamã canina.
Pois os seus novos donos começaram por deixá-lo totalmente sozinho, dia e noite, no terraço, dentro de uma vedação e atado a uma trela – preso, movimentos restringidos. O pobre Gogol passou os primeiros dias e noites a chorar, a ladrar, a ganir e a lamentar-se, sem parar.
Ao fim de alguns dias, os humanos que decidiram mandar nesta vida inocente optaram por deixá-lo, durante parte do tempo, circular pelo terraço, em vez de ficar fechado dentro da vedação e preso.
Já passaram cinco dias. O pequenote já não chora tanto. De vez em quando cansa-se, farta-se, resigna-se e pára. O que é facto é que não vejo os donos brincar com ele, dar-lhe atenção, levá-lo à rua. E esta gente (quando os oiço falar percebo que são dondocas endinheirados) já tem um historial. São reincidentes.
Há quatro anos, quando vim para esta casa, tinham um cão. O Visconde. O Visconde era grande, bonito, carente e velhinho. Reservavam-lhe exactamente o mesmo tratamento que proporcionam hoje ao desgraçado Gogol. Andava doente, desesperado, tossia sem parar, passava as noites nisso e a ladrar.
Daqui desta casa, os donos até receberam ofertas de ajuda: Se era preciso alguma coisa, se precisavam de auxílio para levá-lo ao veterinário. “Não, não, não é preciso! Ele está bem! Ele está bem”. Claro, tão bem que rapidamente se foi embora deste Mundo e já não se encontra entre nós. E o pequeno, doce e amável Gogol? O que vai ser da vida dele?